Leia editorial do Estadão na íntegra aqui:
Perigo à vista: o ministro Guido Mantega teve mais uma ideia. 
Agora ele propõe uma trapalhada para o próximo governo - usar um índice especial de inflação para baixar os juros mais velozmente. 
e essa lambança for executada, as metas oficiais serão desmoralizadas, como ocorreu na Argentina, o combate à inflação será relaxado e toda a estratégia dos próximos quatro anos poderá ser prejudicada. 
A ideia é adotar um IPCA sem combustíveis e sem alimentos para servir de referência para a meta de inflação e para a política de juros. 
No Brasil, a maior parte dos preços flutua livremente. 
Uma alta sazonal ou acidental é compensada num prazo razoável por uma queda. 
Mas é perigoso apostar, sempre, no recuo dos preços de alimentos e de combustíveis. 
Pode haver longos períodos de alta, não apenas em consequência de mudanças nas condições de produção e de consumo, mas também de alterações financeiras. 
Núcleos de inflação podem dar informações importantes, quando avaliados com discernimento. 
Mas concentrar a atenção em dados como esses pode levar a resultados desastrosos. 
O exemplo mais evidente é o erro cometido pelo Federal Reserve, o banco central americano, ao manter os juros muito baixos por muito tempo. 
Os condutores da política levaram em conta um número muito restrito de preços, quando deveriam ter dado importância à especulação nos mercados de commodities. 
Da mesma forma, deveriam ter estado atentos à formação da enorme bolha no setor imobiliário.
O ministro Mantega parece não ter percebido ou interpretado corretamente esses fatos. 
Para produzir uma boa política monetária e financeira é preciso levar em conta um número maior - e não menor - de informações. 
Não é bom por apresentar menos informações, mas por enriquecer o conjunto. 
Além disso, as pessoas pagam os preços da inflação cheia, não da expurgada, e um persistente erro de avaliação pode causar muito mal, especialmente aos pobres.
O ministro Mantega tem um longo currículo de trapalhadas e de mágicas desastrosas. 
Ele tem exercido o seu talento principalmente na tentativa de maquiar as contas do governo e, de um modo especial, o endividamento público. 
Se cuidasse melhor da política fiscal, contendo a gastança e preservando o Tesouro de operações promíscuas de financiamento, a economia seria mais saudável e seria mais fácil baixar os juros.
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