Merval Pereira, O Globo
O vergonhoso 
bate-boca entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa não pode ser
 caracterizado como uma crise institucional, mas que afeta a imagem do 
Supremo Tribunal Federal, isso afeta.
(...)
A 
preocupação com uma eventual desmoralização do Supremo aumenta diante do
 poder, real e imaginário, da Presidência da República.
A 
presidente Dilma, com os índices de popularidade que vem alcançando, vai
 dando continuidade, por meio de outros atributos, à presidência 
imperial de Lula, que confrontava o Judiciário com críticas públicas e 
subjugava o Legislativo com benesses a seus membros.
(...)
Chama-se 
hiperpresidencialismo o regime em que o Executivo abarca todos os 
poderes do Estado, diante de outros poderes subjugados.
Mesmo 
tendo a maioria de seus ministros indicados por governos da mesma 
tendência política, o Supremo tem se mostrado de uma independência vital
 para a democracia brasileira, e a última coisa que poderia acontecer é 
sua perda de credibilidade.
(...)
O 
PT no poder há nove anos e quatro meses já nomeou 11 ministros do 
Supremo, e hoje existem apenas três deles que foram nomeados em outros 
governos: Celso de Mello, por Sarney; Marco Aurélio Mello, por Collor; e
 Gilmar Mendes, por Fernando Henrique.
O ex-presidente Lula reagiu
 assim, em entrevista recente, sobre suas indicações para o Supremo:
“A 
gente não pode indicar as pessoas pensando na próxima votação na Suprema
 Corte...(blablabla)"
(...)
Muito embora não tenha sido tão imparcial assim o 
tempo todo, pois se sabe de pelo menos uma vez em que o presidente Lula 
telefonou pessoalmente para um ministro que acabara de nomear reclamando
 de um voto seu.
Há quem veja o hiperpresidencialismo como nada 
menos que uma ditadura disfarçada, cujos limites para a ditadura de fato
 é a liberdade de imprensa, que geralmente não existe em países que já 
adotam esse sistema de governo, como na Venezuela e na Rússia.
Os 
estudiosos dos sistemas de governo dizem que a fragmentação partidária 
pode levar a que o Executivo estimule uma maioria circunstancial que 
favoreça a aprovação de sistemas autoritários, como aconteceu na Rússia.
O
 mesmo fenômeno acontece na América Latina, com governos de países como a
 Venezuela, o Equador e a Argentina, se utilizando dos mecanismos 
democráticos para aprovar leis que lhes conferem superpoderes, colocando
 o Executivo acima dos outros poderes, fazendo com que o sistema 
democrático perca sua característica de contrapesos.
Não é o que 
ocorre no Brasil, pois nenhuma legislação foi aprovada para alterar a 
composição do Supremo e nem o Legislativo foi obrigado a não analisar a 
pertinência das medidas provisórias, por exemplo.
MAS A DESMORALIZAÇÃO DOS DEMAIS PODERES DA REPÚBLICA PODE LEVAR AO MESMO RESULTADO. 
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