domingo, 17 de abril de 2016

AS ELITES CULTURAIS E O MITO LULA

Bolívar Lamounier

O segmento da elite brasileira constituído por intelectuais, professores universitários e clérigos – junto com o sindicalismo- foi decisivo na criação do mito Lula. Construíram-no – para usar o verbo da moda- e até hoje se devotam a ele como um líder “de esquerda”. Ora, mesmo quem não se define como esquerda, mas conhece história e respeita o bom debate de ideias, não tem como evitar um profundo desconforto ao ver o conceito de esquerda associado ao populismo - essa aberração endêmica que Lula personifica num grau poucas vezes igualado na América Latina.

Quem marcou bem tal diferença foi Delfim Netto, numa entrevista recente: se Lula de repente desaparecesse – queira Deus que não-, o PT instantaneamente se reduziria a um insignificante partido reacionário, hostil a tudo o que o Brasil precisa fazer para retomar o processo de desenvolvimento econômico e social.

Assombroso, no caso, é o grau em que os adeptos intelectuais do lulopetismo se deixaram contaminar por um modo de pensar no mínimo esdrúxulo. Um conjunto desconexo de ideias caracterizado por: (1) o culto à personalidade de um líder populista que não se peja sequer de posar como inimigo da escolarização e do mérito educacional; (2) uma terminante recusa da modernidade na economia e na organização do Estado; (3) uma atitude ambígua - para dizê-lo com certa caridade-, em relação às instituições democráticas; (4) um insistente recurso à malícia e à mentira no debate público – bem naquela linha de que uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade.

Tendo sempre emprestado seu prestígio a essa maçaroca ideológica, os adeptos do PT na elite cultural acrescentaram-lhe agora o trapaceiro bordão de que “não haverá golpe”, ao qual Dilma Rousseff se aferrou como tábua de salvação.
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(*) Bolívar Lamounier,72, cientista político, é autor de “Tribunos, profetas e sacerdotes: intelectuais e ideologias no século 20” (São Paulo: Companhia das Letras, 2014)

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