sábado, 23 de abril de 2016

MERCOSUL E UNASUL NÃO APOIARÃO O GOLPE DO PT

O patético pedido de socorro da presidente Dilma Rousseff ao Mercosul e à Unasul, feito em Nova York na sexta-feira, não vai resultar em nada.

Aliás, coisa feia esse pedido de intervenção externa em nossos assuntos internos. Não se trata apenas de uma iniciativa desesperada. É uma iniciativa imoral, contrária à dignidade do Estado brasileiro.

Mercosul e Unasul não vão fazer nada por uma simples razão: o eixo bolivarianista-peronista-petista, de natureza populista e autoritária, cujos líderes juraram apoiar-se uns aos outros na pretensão do poder eterno, não mais existe.O peronismo pulou fora do barco, e os bolivarianistas e petistas, que ficaram no barco, estão sem remo, rumo e leme.

É por isso que o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia – um dos principais arquitetos desse eixo falido - continua a se esguelar ao telefone, infrutiferamente.

São poucos os que ainda se dispõem a ouvi-lo quando propõe um golpe contra nossas instituições democráticas, na forma de apoios externos de oposição ao processo de impedimento da Presidente da República.

Na América do Sul, somente os presidentes da Venezuela, Bolívia e Equador ainda fazem um esforço para levar a sério a lenga-lenga de Garcia.

Mas esses, pouco podem fazer, imobilizados pelas contradições que têm de administrar para assegurar a sobrevivência de seus próprios modelos econômicos e políticos. No caso da Venezuela, em particular, a situação parece estar à beira do desastre total.

O mais sério golpe contra o eixo populista partiu da Argentina, onde a herança Kirchner foi deletada por um novo presidente que, em poucos meses, está conseguindo trazer seu país de volta à racionalidade econômica e plena reinserção internacional.

Liberado do cerceamento que antes sofria, o Judiciário argentino segue o exemplo de seus colegas brasileiros e começa a desvendar um vasto esquema de corrupção que envolvia o kitchnerismo por todos os lados.

A posição do governo argentino é clara: não-intervenção nos assuntos externos de seus vizinhos e, em relação à situação do Brasil, não mais do que manifestações de apreço ao respeito à Constituição e aos princípios da democracia.

No Paraguai, o governo do presidente Cartes e a opinião pública nacional não moverão uma palha para ajudar um governo (o brasileiro) que tanta humilhação promoveu ao pais e à classe política local.

Afinal, foi no próprio Palácio do Planalto que se articulou a suspensão do Paraguai do Mercosul em 2012, como desculpa esfarrapada para fazer entrar na organização, pela porta dos fundos, a Venezuela (cujo ingresso vinha sendo bloqueado pelo Congresso paraguaio).

A revanche agora se dá, pela inflexível decisão paraguaia de se opor a qualquer atuação do Mercosul crítica ao processo político brasileiro.

O Uruguai também não apoiará qualquer movimento do Mercosul ou da Unasul. Uma ministra uruguaia, Marina Arismendi, chegou a propor há alguns dias que o governo uruguaio “condenasse”a decisão da Câmara de Deputados brasileira, por decidir dar seguimento ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. Apoiaram-na apenas dois ministros: Ernesto Murro (Trabajo) e Eduardo Bonomi (Interior). Mas a proposta foi rejeitada, graças à intervenção dos ministros mais fortes do governo, o da Economia, Danilo Astori, e o chanceler Rodolfo Nin Novoa. Se a Frente Ampla quissesse, que se manifestasse contra, mas o governo uruguaio não o faria.

A Frente Ampla chegou a pleitear que o Brasil fosse suspenso do Mercosul pela violação da cláusula democrática. A proposta foi recebida com sorrisos irônicos: afinal, sem o Brasil, simplesmente o Mercosul deixaria de existir.

Para agradar gregos e troianos, o governo uruguaio acabou por emitir uma nota cautelosa, dizendo que acompanham com preocupação os eventos no Brasil relacionados ao impeachment de uma presidente eleita, e recomendam que esse processo político se desenvolva “no marco da Constituição e dos valores democráticos”.

Sem esses três países vizinhos, nada se moverá no Mercosul ou na Unasul.

Na hipótese de uma próxima mudança de governo, no Brasil, terão todos os três, ganhos antecipado na contabilidade diplomática brasileira.



Pedro Luiz Rodrigues é diplomata

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