segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

PT, PSDB e imprensa: um peso, duas medidas

Como preservar Cardozo de si mesmo

Por Reinaldo Azevedo
Os petistas gostam de acusar o que eles chamam “mídia” de perseguir o partido. Na Folha de domingo, Miruna, a filha de José Genoino, sugere que essa tal “mídia” é responsável até pelos problemas cardíacos de seu pai. Tenham paciência, né? Essa pressão, no entanto, surte efeito. 
Neste fim de semana, aconteceu uma coisa realmente incrível: veio a público a informação de que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, manteve há coisa de uns 10 anos — quem sabe em 2002… — encontros com o empresário Arthur Teixeira, consultor da área de transportes que a Polícia Federal e o PT chamam de “lobista”.
Procurado, Eduardo Carnelós confirmou que os encontros aconteceram. E se deram A PEDIDO DE CARDOZO. O petista procurou Teixeira, não o contrário. E para quê? Parece que o então deputado ou quase-deputado queria informações justamente sobre a área de transportes. O advogado de Teixeira, evidentemente, diz que nada de anormal ou ilegal aconteceu nessas ocasiões. Não estou duvidando da afirmação, mas me parece óbvio que ele jamais diria o contrário ainda que tivesse acontecido.
O fato relevante aí, e isto é o que interessa, é que Teixeira certamente mantinha contatos suprapartidários. Para o caso em espécie, tanto faz ser lobista ou consultor. Não lhe cumpre escolher o partido das pessoas com as quais conversa. Uma coisa é certa: se Cardozo está no comando da investigação do suposto cartel (é o chefe do Cade e da PF) e se manteve encontros estreitos com Teixeira — tornado uma das personagens da investigação —, é claro que essa relação não poderia ter sido omitida nem do público nem da presidente Dilma.
Muito bem! Que eu saiba, só este blog — com destaque na homepage da VEJA.com — e o Correio Braziliense noticiaram o fato. No resto, fez-se um silêncio sepulcral. E todos os veículos tinham a informação. Ninguém estava acusando — tampouco eu — o ministro de ter cometido um crime. O que se deve estanhar é o fato de ele ter escondido essas relações. E ele certamente se lembra do encontro.
Poder-se-ia objetar: “Mas o que se transformaria em notícia? Um encontro do agora ministro Cardozo com um dos investigados do suposto esquema de formação de cartel?”. A resposta é “sim!”. Só não seria notícia se o ministro não fosse o chefe da investigação e não se comportasse de modo tão heterodoxo no caso.
A propósito: quatro secretários da gestão Alckmin foram acusados, numa terceira carta anônima, de envolvimento direto com um suposto esquema criminoso. O papel transitou pelo Cade e foi parar na PF (segundo Cardozo, por iniciativa sua). E nesse caso? Por que isso é notícia, e os encontros mantidos pelo ministro, confirmados por um dos lados, não são? Só há uma resposta: ora, porque Cardozo é petista, e os outros são tucanos. E, como sabemos, segundo a máxima petralha, petistas são sempre inocentes mesmo quando são culpados — vejam o caso do mensalão —, e seus adversários são sempre culpados mesmo quando são inocentes.
A patrulha que o PT exerce sobre a imprensa não é inócua, não! Funciona! E a prova está aí.

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