sábado, 26 de maio de 2012

A missão de Thomaz Bastos

Por Ruy Fabiano

Um dos fatos mais intrigantes em torno da CPI do Cachoeira é o de estar na sua defesa um personagem da estatura política do advogado Márcio Thomaz Bastos.
Não é um advogado qualquer, nem pode ser visto como tal. Ex-ministro da Justiça de Lula e um de seus conselheiros políticos mais notórios, assume a defesa de alguém cuja CPI foi idealizada pelo próprio Lula. É intrigante mesmo.

Lula figura, pois, na defesa – ao ter seu ex-ministro e conselheiro aconselhando o contraventor – e no ataque, ao idealizar a CPI. Sabe-se que Cachoeira é um homem-bomba, como o foi Roberto Jefferson, no episódio do Mensalão.
(...)

O exemplo de Jefferson traumatizou o PT. Pelo que já se sabe de Cachoeira, é um homem-bomba das proporções de Jefferson.
Ou ainda pior, já que aquele era um parlamentar, detentor de um mandato popular e não havia, em princípio, desdouro algum em tê-lo como aliado.
Já Cachoeira é um velho contraventor, neste momento preso, à espera de conclusão do inquérito e julgamento.

Não é tão fácil explicar a intimidade de que gozava no meio político, suas relações íntimas com uma empresa, a Delta, uma das maiores fornecedoras do governo federal –  da qual se suspeita seja um sócio oculto. Nada menos.

Qual a missão de Márcio Thomaz, conselheiro de Lula, em tal circunstância?

Pelo que se viu na CPI, cabe-lhe guardar o silêncio do cliente, evitar que acione o gatilho da bomba-relógio. “Ele pode não falar nunca”, garantiu.

A CPI foi um equívoco de Lula. Um tiro no pé.
(...)

Ocorre que Cachoeira não atua apenas em Goiás. Basta lembrar que seu advento na política nacional – sua primeira exposição pública - deu-se no Rio de Janeiro, quando negociou com Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu, contribuição para a campanha da senadora Benedita da Silva, do PT.

A divulgação do vídeo, em que Waldomiro pedia a propina de 1% sobre a contribuição, foi o primeiro dos escândalos do governo Lula, um mês após a posse, em 2003.

Waldomiro teve que ser demitido, mas o episódio resvalou em José Dirceu, a quem assessorava desde a Câmara dos Deputados.
Cachoeira, pois, fez seu début no PT. Só por aí já seria desaconselhável levá-lo a um tribunal político como a CPI.
Aí volta a fazer sentido a figura de Thomaz Bastos. Ele teria a missão de tornar seletivas as acusações de Cachoeira, direcionando-as aos alvos escolhidos: Demóstenes e Perillo.
Só que a sequência de denúncias, amplamente publicadas na imprensa, expôs pesos-pesados do governismo, envolvidos na mesma malha: os governadores Sérgio Cabral (RJ) e Agnelo Queiroz (DF) e o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta.

Não é mais possível separar o joio do joio, numa plantação em que não há trigo. Resta apenas o silêncio e o esvaziamento da CPI, promovido pela maioria governista.
Transformar a CPI do Cachoeira numa cascata. É o que está em pauta.

Íntegra AQUI.

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