segunda-feira, 21 de maio de 2012

VÍTIMAS DA TENTAÇÃO DO DINHEIRO FÁCIL

Mais de 3 mil são vítimas de empréstimos fraudulentos

INSS reconhece que golpe não é problema só dos bolsões de pobreza do Nordeste


CASAS DE crédito consignado em Coroatá, no Maranhão: 

Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade ajuizou 600 ações 
indenizatórios em nome de vítimas do golpe do superendividamento  
 
COROATÁ (MA) - Até para quem não sabe ler, o apelo é tentador. Letreiros coloridos exibem reproduções de notas de R$ 50 e R$ 100 e imagens de idosos sorridentes.

“As melhores conquistas também fazem parte da melhor idade”, diz um deles.

“Mais rápido e pronto para resolver seus problemas”, promete o outro.

No comércio de Coroatá, cidade do cerrado maranhense a 276 quilômetros de São Luís, casas de empréstimo consignado estão em cada esquina. Elas chegaram dispostas a democratizar o acesso ao crédito “fácil, sem consulta ao SPC ou avalista”, mas tudo o que conseguiram foi levar para o sertão uma epidemia que se espalha pelo país: O GOLPE DO SUPERENDIVIDAMENTO, EMBALADO PELA EXPLORAÇÃO DA BOA-FÉ DE APOSENTADOS E PENSIONISTAS.

Damião Sátiro de Oliveira, de 71 anos, caiu na tentação. Analfabeto e aposentado rural em Coroatá, recorreu a uma das lojas, cujo nome não lembra, para pedir um empréstimo consignado. Queria pagar uma dívida. Entregou os dados pessoais e calcou o dedo polegar no contrato. Meses depois, descobriu que outros quatro empréstimos foram feitos em seu nome, sem que tivesse autorizado. 
Hoje, recebe apenas R$ 300 do benefício de R$ 622 — o restante é retido para pagamento das dívidas — e foi obrigado a cortar remédios de uso contínuo para viver com metade da renda habitual.

— Nunca ouvi falar dos bancos que estão descontando o meu dinheiro. Para piorar, a minha mulher caiu no mesmo golpe — lamentou o aposentado.

Mas Damião Oliveira não é um caso isolado. Em um país que registrou, somente nos cinco primeiros meses de 2012, R$ 11,4 bilhões em contratos de empréstimos consignados, o INSS reconhece que o golpe do superendividamento não é um problema só dos bolsões de pobreza do Nordeste, mas de todo o Brasil.
(...)

— Estão transformando uma legião de miseráveis em uma legião de miseráveis endividados — lamenta o ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
(...)

— O crédito consignado é uma bomba-relógio, uma perversão da democracia. É como medicamento. Se a pessoa não tem condições de entender a bula, não tem também condições de identificar os perigos do contrato de crédito — disse Benjamin.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário