sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eu, Masoquista

Artigo de Jorge Ferraz
Eu “fui ao comício” no Marco Zero, onde o presidente Lula estava com sra. Dilma Rousseff e mais uma cambada de “companheiros”.

Cheguei perto das dez horas da noite. Algumas pessoas estavam já voltando, mas o senhor presidente ainda estava falando e, considerando o tempo que ele falou depois disso, acho que cheguei bem no início do seu discurso.
A praça do Marco Zero parecia estar lotada, mas era pura armação: fizeram um “labirinto” com aquelas grades móveis por toda a praça, exigindo que as pessoas dessem voltas e mais voltas para chegar ao centro e induzindo-as, assim, a ficarem no perímetro, fora das grades.
Para quem via de longe, passava realmente a impressão de que o Marco Zero estava lotado.
Mas eu, que nunca tive medo de multidão, fui até o centro da praça: praticamente vazia.
Havia até mesmo pessoas sentadas no chão.

A sra. Rousseff não falou; ou, então, eu só cheguei depois que ela já tinha falado.
Por uma longa e enfadonha hora, eu só ouvi o senhor presidente. Lula fez questão de dizer era necessário votar nos deputados – nos “companheiros”… – que apoiavam o Partidão, que era preciso eleger Humberto e Armando senadores, Eduardo governador (para que Pernambuco avançasse “30 ou 40 anos em 8″) e Dilma presidente.
Foi muitas vezes interrompido por aplausos.
Mas houve três situações curiosas no discurso do senhor presidente.

Uma: falando sobre Humberto Costa, que foi ministro da Saúde, disse que ele havia feito muito por Pernambuco – aplausos.
Que era uma pessoa séria e honesta, blá-blá-blá – aplausos.
Que, no entanto, não havia feito mais (aqui, o presidente elevou a voz; estava quase aos gritos) porque os inimigos dele o haviam traído, votando contra a CPMF e tirando da saúde não-sei-quantos-milhões que já estavam destinados para não-sei-o-quê.
E não houve mais aplausos.
E os sonoplastas bem que poderiam introduzir, neste momento, o clássico som de grilos cricrilando.
Ao que parece, nem os próprios petralhas estão dispostos a defender a CPMF do Governo.

Duas: falando sobre as mulheres.
O presidente começou a falar um monte de coisas politicamente incorretas: que são as mulheres que carregam por nove meses no ventre um ser humano, que são as mulheres as responsáveis pelo lar familiar,...
A clássica separação de papéis dentro do Matrimônio à qual a modernidade tem tanto ódio!
E lá estava o Lula, em um ato falho, a defendê-la:
Mais uma vez, os sonoplastas teriam trabalho neste momento, porque o discurso – inflamado! – não arrancou aplausos da petralhada.
E o presidente achou melhor mudar de assunto.

Três: rasgando-se em elogios à Dilma.
Disse que ela era uma mãe, e que ele gostava tanto e confiava tanto nela que poderia dizer, com toda a honestidade, que, “se não tivesse a Marisa” [aqui eu já comecei a rir, imaginando o que diabos ele iria falar], e ele “tivesse um filho [pequeno]”, entregaria o filho para a Dilma criar (!).
Pasmem, isto foi dito desse jeito!
Lula, em menos de um minuto, ofendeu a primeira-dama, demonstrou total descaso pelo seu hipotético filho (como assim, “dava para a Dilma criar”? Fala que casava com ela, Lula!) e agrediu mortalmente a presidenciável feminista (porque criar filho é tudo o que gente dessa laia não quer fazer)!
E eu, esforçando-me para segurar as gargalhadas, afastei-me um pouco da praça.
O ambiente era hostil a ponto de ser contrário à prudência debochar do senhor presidente.
Mas, que deu vontade… ah, isso deu.

Por volta das onze horas da noite, o presidente despediu-se, disse “muito obrigado” e os militantes – que carregavam cartazes e bandeiras – desapareceram em um piscar de olhos.
Nem sequer esperaram para tentar bater fotos, ou cumprimentar algum dos candidatos, nem nada: veio-me à mente a maliciosa comparação com empregados de uma fábrica que ouvem o toque da sirene anunciando o final do expediente.
Também não seria eu a esperar mais nada: voltei à minha cerveja.
Agradecendo a Deus por ter sobrevivido ao comício.
Brindando ao Papa.
E pedindo ao Altíssimo misericórdia para o Brasil.
Fonte: deuslovult

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