quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Despertar da oposição

Por Marco Antônio Villa, na Folha:

A OPOSIÇÃO ACORDOU.
Finalmente.
Tinha imaginado que a eleição era na Lapônia.
E que a candidatura oficial tinha a lhaneza do Papai Noel.
Descobriu que vivemos em um país onde as instituições democráticas são frágeis.
Onde o Poder Judiciário é de mentirinha.
E o Legislativo está sendo invadido -para a alegria mórbida dos inimigos da liberdade- por humoristas decadentes, ex-jogadores de futebol, celebridades instantâneas e “sambeiros” que espancam suas mulheres.

Lula rasgou a Lei Eleitoral.
Depois de ter sido multado diversas vezes pela TSE resolveu, a seu modo, a questão: passou a ignorar solenemente o tribunal.
Manteve a rotina de associar o cotidiano administrativo com o processo eleitoral.
Em outras palavras: “peitou” o tribunal e ganhou.
Ganhou por omissão do TSE.

Para Lula, a democracia não funciona pelo respeito às leis, com uma oposição vigilante e pela crítica às ações do governo.
Não.
Para ele, a democracia só tem uma fala, a dele.

Transformou as cerimônias públicas em espetáculos de humilhação.
Aos adversários, como na Revolução Cultural chinesa, reserva o opróbrio.
Basta citar dois incidentes recentes: um em São Paulo e outro em Sorocaba.
Manteve-se impassível quando a claque vaiou e quase impediu de falar o governador Goldman.

No fundo, estava satisfeito.
O mais triste é que o fato foi considerado absolutamente natural.
No Brasil lulista a prática de impedir pelos gritos e, se necessário, pela força um opositor de falar está virando rotina.

A associação indevida entre governo e Estado é evidenciada a todo momento.
Tanto no escândalo dos dossiês, como no comício de Guarulhos -onde nem usou o disfarce da presença da candidata- ou na decoração do gabinete presidencial, que tem na parede um adesivo com o logotipo do governo em vez de algo símbolo nacional.

O lulismo desqualifica a política.
E abre caminho para o autoritarismo.
A eleição deixa de ser uma salutar disputa pelo futuro do país e vira uma guerra.
Para ele, os opositores não são adversários, são inimigos.

Enfatiza alguns êxitos econômicos (parte deles sem qualquer relação com o atual governo) e sonha com o poder absoluto.
Despreza os defensores das liberdades e, por vontade própria, já começou a miniconstituinte: aboliu informalmente o artigo 5º da Constituição.

Age como o regime militar.
Tem medo de, cara a cara, enfrentar um oposicionista.
Ridiculariza a política.
Neste ritmo logo veremos, como na ditadura, algum outdoor com a frase: “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada”.

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