quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Perdedora

Trechos de artigo de Miriam Leitão em "O Globo"
A perdedora

Já se sabe quem perdeu a eleição de 2010: a Receita Federal.
O órgão sai dessa campanha com uma queda violenta de credibilidade.

Pelo que fez, pelo que deixou de fazer, pelo que deixou que fizessem em suas repartições, a Receita que tinha o respeito dos brasileiros — e o temor dos sonegadores — hoje está reduzida a um braço de um partido político.

A violação do sigilo fiscal da filha do candidato José Serra é daqueles fatos que acabam com quaisquer dúvidas que por acaso ainda persistiam.
A resposta dada pela Receita de que interposta pessoa levou procuração pedindo para quebrar o sigilo da contribuinte foi espantosamente grosseira.

Na campanha governista a avaliação é que este assunto não terá impacto eleitoral porque apenas alguns milhões de brasileiros declaram imposto de renda no país.

Isso equivale a dizer que crimes que atingem poucos eleitores podem ser cometidos, sem problema, desde que não ponham em risco a eleição da candidata do governo.

O Estado não pode ser usado pelo partido que está temporariamente no poder para espionar adversários políticos.
Foi isso que derrubou o então presidente Richard Nixon no caso Watergate.

No governo Lula, o aparelhamento de alguns órgãos ficou acima do tolerável.
Como o que acontece com o Ipea, por exemplo.
O órgão não foi usado nem mesmo pelos militares durante a ditadura.

Agora virou estação repetidora do partido.
A qualidade dos estudos comandados pela presidência do órgão é sofrível.

O primeiro sinal de que a Receita Federal não era mais um território protegido do uso indevido aconteceu na queda da ex-secretária Lina Vieira, derrubada por ter dado informações que constrangeram a hoje candidata Dilma Rousseff.

O caso nunca foi suficientemente esclarecido.
Até o fato de não haver ainda a foto dela na parede dos ex-secretários da Receita é um sinal estranho.
Lembra os regimes autoritários que mudam a história pregressa e apagam personagens que incomodam.
É ela, a Receita, a perdedora.
Mais do que as vítimas da espionagem.

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