quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Milagre da Copa: Bolsa-Família no Hotel Glória

Por Demóstenes Torres
No blog do Noblat


Quando li a Lei Geral da Copa (LGC) a considerei tão grave que fiz pronunciamento e publiquei as impressões aqui no blog.
Até integrantes da base aliada ficaram abismados – e a expressão está correta, porque trata-se de querer empurrar o País para o abismo.

O senador Paulo Paim, autor do Estatuto do Idoso, do qual tive a honra de ser relator, custou a crer na submissão à Fifa para tirar a meia entrada dos maiores de 60 anos.
Mas tudo que é dito sobre o assunto acaba se comprovando.
Principalmente, quando envolve dinheiro e ingressos.

Para Joseph Blatter, o poderoso-chefão da Fifa, o Brasil é simplesmente um capacho verde de 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados.
No afã de agradá-lo, foram feitos no fêmur documentos legais piores que a média já não boa das leis tupiniquins.

Assim saíram o Estatuto do Torcedor, a lei que isenta a Fifa de tributos e o Regime Diferenciado de Contratações, o RDC, uma autorização para roubar nas obras da Copa – como se precisasse.
Agora, vem a LGC, derrogando o Código de Defesa do Consumidor e aviltando a Bandeira e o Hino nacionais.

Denunciados pioneiramente aqui, esses absurdos não pararam de passar vergonha no País e culminaram com a presidente Dilma Rousseff se humilhando a ser recebida na Fifa pelo segundo escalão.

Agora, o deputado Romário Faria, um craque também no parlamento, avisou que haveria escândalo com os bilhetes.
Acertou no ângulo.
O jornalista inglês Andrews Jennings divulgou que Blatter deu a parente (o sobrinho Philippe) e amigos (Enrique e Jaime Byrom) as entradas do Mundial de 2014.

Não algumas, todas.
De 450 mil ingressos, os melhores, o sobrinho pode dispor como quiser, são dele, graciosamente.
Os outros 2,8 milhões de ingressos o pupilo ganhou para revender.

Após fazermos o alerta, gente do governo e da Fifa se manifestou sobre o calote que estudantes e idosos vão levar durante as partidas.
Mas, até hoje, nenhuma medida efetiva foi tomada.
Dilma não mandou ao Congresso qualquer texto corrigindo a LGC.

À pilantragem, reagiu-se com espelhinhos: governo e Fifa prometem desconto para índios e inscritos no Bolsa-Família.

A vontade é de rir, mas o caso é sério: querem que família pobre torre três meses de benefício para ir a um jogo e que a Funai inclua os bilhetes na cesta básica.

Estados das cidades-sedes também se agacham à Fifa e garantem cobrir “prejuízos” com meia-entrada.

Choramingam a falta de verbas para Saúde e Educação e querem saciar a garganta mais profunda das entidades desportivas.

Enquanto planejam tirar os trocados dos humildes, os organizadores implantam a Bolsa-Milionário.
O BNDES repassou para Eike Batista, o Neymar dos ricaços, 66% dos R$ 220 milhões de seu programa de melhorar estabelecimentos para a Copa.


A contrapartida deve ser que Eike reserve no Hotel Glória alguns quartos com diárias subsidiadas para o lumpemproletariado.
Não ria.
No caso da Copa, as anedotas acabam nomeadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário