segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fatos e números sobre o Rio

Não desisti da verdade: fatos e números sobre o Rio.
Ou: Querem matar o sentido das palavras, mas sou teimoso!

Por Reinaldo Azevedo

No tempo em que o sentido das palavras já dava sinais de fraqueza, escrevi muitos textos neste blog defendendo que as Forças Armadas ajudassem a recuperar o território tomado pelo narcotráfico.

Por alguma razão, muitos dos que agora aplaudem a ação das Forças Armadas achavam, então, que aquelas eram idéias autoritárias, coisa, como eles gostam de dizer sobre seus inimigos, de “fascistas”.

Eu sou efetivamente favorável a um plano organizado, pensado, planejado no detalhe, de recuperação dos territórios brasileiros perdidos para o narcotráfico — sempre considerando que a cocaína e as armas dos morros não foram produzidas no Brasil; passaram por nossas fronteiras, e vigiá-las é responsabilidade do governo Federal.

As UPPs vêm sendo implantadas há dois anos.
Estima-se em 200 mil o número de moradores sob a influência dessas unidades.
A Polícia foi avançando sem prender ninguém.
Em dezembro de 2009, são dados oficiais, a população carcerária no país era de 474.626 pessoas.
Do total, 34.6% estavam em São Paulo (399,79 por 100 mil habitantes), que tem apenas 22% da população.
O Rio — apenas 166,56 por 100 mil — vinha em quinto, com menos presos do que Minas, Paraná e Rio Grande do Sul.

Querem um número que se casa bem com esse?
Segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, em 2009, a taxa de homicídios esclarecidos no Rio foi de, ATENÇÃO!, 2,8%!!!
A média nacional, que já é escandalosa, é de 25%.
Em São Paulo e no Rio Grande do Sul, por exemplo, chega a 60%.

E, agora, o dado não é de ninguém, mas uma conclusão de um ser lógico: quem prende pouco acaba resolvendo pouco, não é mesmo?
Bandidagem solta e impunidade se alimentam.
Mais uns numerozinhos?
Pois não!
No ano passado, a taxa de homicídios dolosos em São Paulo foi de 10,95 por 100 mil habitantes — hoje está em 9, a mais baixa do Brasil; no Rio, chegou a 34,36 — e olhem que é difícil saber quantos morrem onde a polícia não entra.
Mas atenção!
Está longe de ser a maior.

Muito bem: dada essa realidade, a política de segurança pública do Rio — aplaudida em jornalismo, prosa e verso —, era qual?
Ora, instalar as UPPs, orgulhar-se de não enfrentar resistência, não prender ninguém, não apreender droga e acomodar o narcotráfico, numa espécie de legalização oficiosa da prática, desde, é claro, que seu comportamento seja mais discreto e que não tente impor às “comunidades” a sua própria lei.

Acho positivo que as Forças Armadas tenham entrado para auxiliar a Polícia — escrevo a favor dessa colaboração há pelo menos 15 anos!
Mais: todos aqueles bandidos que se acoitaram no Complexo do Alemão têm de ser presos.
Não só isso: o arsenal tem de ser apreendido.
Se as armas não aparecerem às centenas, será um péssimo sinal.
Mas atenção!
Como se diz por aí, “nem vem que não tem!”
Não chamarei as escolhas de agora de Sérgio Cabral e José Mariano Beltrame de continuidade ou desdobramento da política que vinha sendo executada.
Uma ova!
O cerco que se arma no Rio, curiosamente, foi uma escolha estúpida dos próprios traficantes.
E, como já apontei aqui há quase dois meses, se as comunidades eram libertadas sem prisões, um dos riscos possíveis, então, era o Rio exportar bandidos.

População
Compreendo o ânimo de boa parte da população do Rio. Tem mais é de aplaudir mesmo a polícia e as Forças Armadas.
É gente que já cansou de viver sitiada; que não agüenta mais tiroteios, arrastões, violência; que não compreende por que o estado brasileiro permite que áreas do território nacional sejam dominadas por marginais.
Vislumbra a possibilidade de se livrar de um jugo.

Ora, esse sempre foi o sentimento dominante!
Quem estava acomodado era o poder público.
A maioria dos cariocas e dos brasileiros sempre achou que lugar de bandido é mesmo na cadeia.
Não aplaudiu à toa o primeiro Capitão Nascimento, o que socava bandido.
Não aplaudiu à toa o segundo Capitão Nascimento, o que soca político corrupto.
Mas a vida não é filme, e o roteiro da realidade é um pouco mais complexo.
Vamos ver quantos serão os bandidos presos e como vai se estruturar a libertação das outras áreas do Rio dominadas, sim, pelo narcotráfico e pelas milícias.

As palavras fazem sentido, ainda que agonizem.
Eu sempre defendi o enfrentamento.
O que eu criticava era a “liberação de território” sem “prisioneiros”.
Eu torço para que Cabral transforme o seu fracasso de antes num sucesso.
Se acontecer, beneficiada será a população do Rio.
Mas continuarei a chamar as coisas pelo nome que elas têm.
Como sempre fiz — desde que defendia quase isolado, tadinho de mim!!!, que as Forças Armadas fizessem valer o Artigo 142 da Constituição.
Aplaudo as medidas de agora (e por enquanto), não o governante que transformou em ação de emergência o que deveria ser fruto da escolha política correta e do planejamento: enfrentar o crime e prender os criminosos, submetendo-os ao devido processo legal.

Sem isso, a polícia não pacifica, mas mistifica.

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