sábado, 27 de novembro de 2010

Poeta da paz vira lírico do tanque de guerra

Tanques, Copa do Mundo, Olimpíada…
Por Reinaldo Azevedo

Eu compreendo o esforço do governo federal, do governo estadual e, sim, da imprensa para evidenciar ao mundo que se está fazendo, no Rio, a opção pela ordem e que a bandidagem será vencida.
O trabalho é hercúleo: além do narcotráfico, há as milícias, que têm tudo para ser outra questão incontornável dentro de alguns anos. Longe de mim achar que é tarefa fácil levar estado a essas áreas.
Sei que não é.
Mas se pode fazer isso do modo certo e do modo errado.
O que me incomoda, e muito!, é que o governo do Rio e a Secretaria de Segurança Pública, ao colher os efeitos de seus erros, estejam sendo tratados como visionários de uma nova ordem.
Isso é simplesmente mentira!

Beltrame tem de explicar por que se prendem quase 200 supostos soldados do narcotráfico em menos de uma semana e não se prendeu praticamente ninguém durante a instalação das tais UPPs; ele tem de explicar por que se apreendem duas toneladas de drogas em cinco dias e nem um papelote de pó ou um a trouxinha de maconha durante meses. Qual é?

Sim, teremos Copa do Mundo e Olimpíada pela frente.
São eventos gigantescos, que mobilizam interesses bilionários.
Como falhou o marketing da “ocupação humanista das favelas” — limpinha e sem efeitos colaterais —, então se opta pelo padrão “lei & ordem”.
E o governo federal se apressou em dar uma resposta.
Sem as disputas, estaríamos amarrados àquela cascata de sempre, que sustenta a origem social da violência e bobagens afins.

Antes, Cabral fazia poesia sem dar um tiro.
O Ministério do Turismo até deu início a um programa para transformar favela pacificada em atração…
Sinceramente?
Acho que isso desrespeita mais o pobre do que o próprio narcotráfico.
É uma espécie de tráfico da dignidade alheia, sabem?
O poeta da paz se tornou o lírico do tanque de guerra.
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Em 2006, numa entrevista ao vivo, William Bonner perguntou ao então governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o que havia dado errado na governança, já que o PCC estava botando pra quebrar.
Pergunta cabível.
Em 2010, é preciso que alguém pergunte a Sérgio Cabral: “Mas governador, o que deu errado?”

Não se pergunta — na Globo e em lugar nenhum!
Em 2006, em São Paulo, as TVs enfatizavam o medo da população, o constrangimento, os sustos, a estupefação; em 2010, o que vemos nas ruas do Rio, em todas as emissoras, é uma população valente, corajosa, que segue adiante, que reconhece os desafios do governo e da polícia.

Havia uma diferença importante nos ataques do PCC em 2006: aconteceram em maio, em ano eleitoral, e o cachorros loucos do subjornalismo estavam ativíssimos em todas as emissoras.
O candidato era Geraldo Alckmin, e o crime organizado resolveu, digamos assim, fazer campanha eleitoral.
No Rio, como se nota, é diferente — e também isso parece não despertar a curiosidade de ninguém.
A política de segurança pública foi um dos carros-chefe da campanha eleitoral de Cabral.
Foi anunciada como modelo pela então candidata Dilma Rousseff, que prometeu levá-la para todos os cantos do país.
Deus nos livre dessa hora!!!
Como era uma política que não prendia ninguém, se nacionalizada, talvez a idéia seja exportar bandidos para nossos vizinhos da América do Sul, não é mesmo?

Cumpre notar que, em 2006, o Lula candidato, esquecendo-se de sua condição de Lula presidente, chegou a tratar do PCC em debates, tentando evidenciar o que seria a falência da segurança pública em São Paulo.
Em 2010, por incrível que pareça, Dilma Rousseff repetiu a dose, aludindo aos mesmos fatos daquele ano, ignorando que, fosse o índice de homicídios do Brasil igual aos do estado cuja política ela atacava, em vez de 50 mil ocorrências por ano, haveria apenas 17.100; seriam poupadas 32.900 vidas.
Em 2006, Lembo — e, por tabela, o então presidenciável, Geraldo Alckimin — foi fustigado pelo jornalismo; em 2010, Cabral está sendo tratado como o líder da resistência.
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PARA CONLUIR, ONDE ESTÁ A FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA ALARDEADA PELA ENTÃO CANDIDATA DILMA?
AFINAL, A PREOCUPAÇÃO DE JOSÉ SERRA COM A SEGURANÇA ERA LOROTA, COMO DIZIAM OS PETISTAS EM SEU USUAL TOM DE DEBOCHE?
NINGUÉM TEM CORAGEM DE DESMENTIR LULA E DILMA QUANDO GARANTIAM QUE AS QUESTÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA JÁ ESTAVAM RESOLVIDAS?

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