domingo, 13 de julho de 2014

A PÁTRIA NOS OMBROS

Merval Pereira, O Globo

Mais uma vez a seleção brasileira soçobrou ao peso da sua incompetência, aumentada pela enorme carga emocional com que cada um dos jogadores entrou em campo. Mais uma vez cantaram o Hino Nacional como se fossem guerreiros, e não jogadores de futebol. Mais uma vez disputaram o terceiro lugar para salvar a honra da pátria.

O que define bem o pensamento dos jogadores é a frase emblemática de Davi Luiz após a acachapante derrota para a Alemanha: “Só queria poder dar uma alegria ao meu povo, a minha gente que sofre tanto. Infelizmente, não conseguimos. Queria ver meu povo sorrir. Todos sabem o quanto era importante para mim ver o Brasil inteiro feliz pelo menos por causa do futebol”.

Nesta análise sociológica rasa, porém bem-intencionada, de nosso capitão-herói (e pobre de um país que precisa de heróis, como já disse Bertold Bretch) está simbolizado todo o peso que jogaram em cima da seleção brasileira mais uma vez.



Certamente essa ideia de que é uma responsabilidade de cada um dos jogadores dar alegria ao povo brasileiro “pelo menos no futebol” foi incutida neles nas intermináveis sessões de autoajuda em que o suposto técnico tratava do espírito de seus guerreiros, esquecendo-se de treinar jogadas, de montar esquemas táticos que neutralizassem nossos adversários.

Não se viu nos estádios nada parecido com uma organização de jogo, mas se viu muita emoção, símbolos diversos como a camisa de Neymar a indicar que ele estava presente, um 12º jogador em espírito.

O contraponto a essa opressão patriótica podia-se ver nos jogadores da Alemanha e da Holanda, andando tranquilos pelas praias onde estavam concentrados, dançando com índios na Bahia, dando autógrafos nas praias do Rio, misturando-se à multidão de torcedores.

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