quarta-feira, 27 de agosto de 2014

AÉCIO FOI O MELHOR. MAS VENCEU?

Aécio foi o melhor no debate da Band?

Que Aécio foi o melhor no debate da Band, no sentido de falar coisa com coisa, apresentar ideias e não fugir das perguntas, não resta dúvida. Se fosse pior que Dilma e Marina nesses pontos, restaria interná-lo. Mas isto não é suficiente para vencer, na percepção do grande público, a propaganda, o chavão, o embuste, a inversão, o ataque cínico que se passam como verdades imponentes. Muitas das pessoas letradas e engajadas politicamente sofrem do mesmo provincianismo mental de Aécio: pensam na sua própria capacidade de percepção, no seu próprio grau de conhecimento técnico, para julgar uma performance e então creem que o candidato esteve acima dos demais e que isto tem relevância na campanha eleitoral.
O confronto direto com Marina foi exemplar.
Quando Aécio questionou a candidata do PSB sobre a “falta de coerência” entre o discurso da “nova política” e as alianças que sua chapa firmou nos estados, por exemplo com o PSDB em São Paulo, na tentativa de trazer para o debate a alta popularidade do governador Geraldo Alckmin, ela se disse “inteiramente coerente”, reconhecendo que “existem pessoas boas em todos os partidos” e afirmando em linguagem futebolística à moda Lula, como uma autêntica petista de raiz, que “o problema é que essas pessoas, a maioria delas estão [sic] no banco de reservas, e a sociedade brasileira que se mobilizou em junho do ano passado, ela vai escalar uma nova seleção”. Quer dizer: Marina anulou a acusação e ainda posou de independente, conciliadora, capaz de reconhecer virtudes nos adversários, ao contrário deles.
Na réplica, Aécio tomou três atitudes básicas:
1) Limitou-se a dizer que continua “com dificuldade de entender o que significa essa nova política”. Quer dizer: como a acusação de falta de coerência não colou, porque era mesmo muito fraquinha, o candidato passou a mirar na nova política em si, com a cerimônia de costume, em vez de apontar de uma vez a farsa do slogan. Não há nada de novo sob o sol da “nova política”: apenas velhos políticos que fingem não estar fazendo política para enganar velhos e novos otários. Aécio não disse isso, é claro, e foi indireto demais para realmente dar a entender.
2) Reafirmou a sua própria coerência nas questões técnico-econômicas, ressaltando que as medidas tomadas pelo PSDB “alavancaram” o crescimento do Brasil, gerando mais empregos. Quer dizer: Marina falou em linguagem popular, Aécio entrou com o discurso de gerente de banco, sem exemplos práticos. Marina ficou com a coerência lá no alto ao derrubar a acusação de Aécio e ele teve de correr atrás para mostrar que é coerente também.
3) Cutucou a candidata do PSB com vara curta, dizendo que “fizemos tudo isso com a oposição do então seu partido, o PT” – mais uma acusação que Marina anulou, dizendo na tréplica que as palavras de Aécio apenas reforçavam o seu argumento e citando o caso da CPMF em que seu voto foi diferente dos demais petistas. Desse modo, ela pôde posar de independente de novo e atacar a polarização PT-PSDB, para a qual ela se diz uma alternativa, sendo esta a sua única “ideia” – que obviamente deveria ter sido desmascarada pelo candidato, como fiz no post anterior.
Alguém ainda acredita que Aécio tirou votos de Marina neste confronto?
Aécio pode ser “o melhor” o quanto seja, mas ainda é muito pouco eficaz para aumentar seu eleitorado. Vai permanecer em terceiro lugar nas pesquisas se continuar provincianamente querendo apresentar as ideias mais bonitinhas, sem detonar as adversárias dizendo verdades fundamentais.
Há mais coisas entre a frouxidão e a grosseria do que supõem os partidários da não agressão. E, em que pese o cuidado necessário para não extrapolar os limites, já passou da hora de Aécio não ter mais medo de recair eventualmente na segunda do que sempre na primeira.
Marina e Dilma não têm esse pudor tucano. Como autênticas leninistas de raiz, qualquer coisa elas acusam os outros daquilo (como, por exemplo, da própria política) que elas fazem o tempo todo.

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