sábado, 9 de agosto de 2014

CENTRAL DE ATAQUES A ADVERSÁRIOS E JORNALISTAS NO PALÁCIO DO PLANALTO

Um ataque a jornalistas no Wikipedia gera nova crise no Governo Dilma



A campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) se vê diante de uma nova crise: desta vez, com a imprensa. A rede de internet do Palácio do Planalto foi usada, segundo uma reportagem publicada pelo jornal O Globo, para alterar perfis na Wikipédia de jornalistas críticos aos rumos da economia brasileira. Os ataques vindos da sede do Governo Federal questionam a ética e as notícias veiculadas pelos repórteres e colunistas da área econômica Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg. Ambos trabalham para as Organizações Globo, maior grupo de mídia do país.

O ataque acontece na sequência do episódio envolvendo o banco Santander e o Governo de Rousseff. A candidata à reeleição e outros expoentes do PT, como o ex-presidente Lula, haviam entrado em rota de colisão com a instituição financeira, que enviou um informe aos seus clientes de alta renda relacionando a eventual reeleição da petista a uma piora no cenário econômico do país. “A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta corrente… Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas”, dizia o informe. E acrescentava ainda: “Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia”. Depois do mal-estar criado com a presidenta, e dizendo que o comunicado não refletia a opinião da instituição, o Santander acabou demitindo os seus autores.

Graças ao endereço IP, um identificador digital, foi possível detectar que as alterações dos perfis dos jornalistas na enciclopédia virtual partiram do Palácio do Planalto. A primeira mudança ocorreu no dia 10 de maio do ano passado. Nela, foi incluída que a jornalista Míriam Leitão fazia “análises desastrosas” da economia.

Já, no dia 13, acrescentou-se que Leitão “fez a mais corajosa e apaixonada defesa de Daniel Dantas, ex-banqueiro condenado por corrupção entre outros crimes contra o patrimônio público. A forma como Míriam Leitão se envolveu na defesa de Dantas chamou a atenção de Carlos Alberto Sardenberg, seu companheiro na CBN, para quem a jornalista estava diferente naqueles dias. Para Miriam Leitão, apesar do vídeo que flagrava o suborno a um delegado da Polícia Federal, a prisão de Dantas não se justificava, posto que se tratava de coisas do passado."

Daniel Dantas, controlador do grupo financeiro Opportunity, chegou a ser preso em duas ocasiões, por suspeitas de corrupção para se manter no controle de empresas privatizadas do setor de telefonia, espionagem de concorrentes e evasão de divisas.

Ainda no mesmo dia, um computador do Planalto acrescentou na Wikipédia que “um dos maiores erros de previsão da jornalista ocorreu durante a crise financeira internacional. Em 29/06/2009, Míriam Leitão escreveu o seguinte sobre a previsão de crescimento do Ministro Guido Mantega de 4,5% do PIB de 2010: ‘Ele fez uma afirmação de que em 2010 o Brasil está preparado para crescer 4,5%. É temerário dizer isso’. Contrariando o pessimismo de Míriam Leitão, o Brasil cresceu 7,5% naquele ano."

Vencedora do último prêmio Esso de jornalismo no ano passado, Leitão classificou, em entrevista à Globonews, como injúria o conteúdo postado. A jornalista também denuncia o uso da estrutura física e profissional por parte do Planalto, paga com recursos dos contribuintes, para atacar representantes da imprensa.

Ao colunista Carlos Alberto Sardenberg, os trechos acrescentados pelo usuário do Palácio do Planalto na Wikipédia não foram menos críticos. Além de questionar supostas análises dele, foi feita uma ilação de que “é irmão de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban [Federação Brasileira de Bancos], instituição que tem grande interesse na manutenção de juros altos no Brasil, uma medida geralmente defendida também por Carlos Alberto Sardenberg em suas colunas”. Ao jornal O Globo e a Globonews, o jornalista afirmou ser um crítico dos rumos da economia brasileira e diz defender que o governo o critique. Mas, neste caso, para ele, o que ocorreu foi difamação e não debate de ideias. “Dizer que, porque meu irmão trabalha na Febraban, sou lacaio dos bancos, é uma canalhice, uma baixaria.”

Alterar a Wikipédia parece uma estratégia padrão de um ou mais funcionário do Palácio do Planalto. Da sede do Governo Federal partiram mais de 150 edições de conteúdo. Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, foram acrescentados, por exemplo, elogios ao petista Alexandre Padilha, ex-ministro de Dilma e candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo. Também foram postadas críticas ao tucano José Serra e ao Movimento Passe Livre, que liderou a onda de manifestações pelo País.

Para acompanhar as mudanças feitas anonimamente por qualquer computador do Palácio, um programador brasileiro criou um Twitter público, que monitora automaticamente as alterações na Wikipedia.

O chefe do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot, declarou que o órgão irá investigar o uso da máquina pública. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) condenaram o ataque aos jornalistas ainda mais por meio da estrutura pública.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário