quinta-feira, 28 de abril de 2011

Armas de destruição em massa

José Serra - O Estado de S.Paulo

Armas e drogas continuam entrando em grande quantidade pelas fronteiras do Brasil.
A cocaína transformada em crack e no oxi, um novo produto, torna-se, na verdade, mais destrutiva que armas de fogo.

São centenas de milhares de vítimas, ou milhões, se pensarmos nas famílias afetadas. Uma catástrofe humanitária pior do que muitas guerras.
O Estado brasileiro está despreparado para enfrentar essa ameaça e socorrer suas vítimas.
Não faz o que deveria fazer: combater duramente a entrada das drogas no Brasil, enfrentar o tráfico, promover campanhas educacionais e recuperar os dependentes químicos.
(...)
Os profissionais de saúde que atendem os usuários de drogas trabalham em condições precárias.
A recuperação, penosa em qualquer circunstância, fica ainda mais difícil no quadro de deficiências de gestão da saúde pública brasileira.
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem cerca de 250 Centros de Atenção Psicossocial voltados para dependentes de álcool e drogas.
São poucos e sem estrutura adequada para as necessidades específicas dos usuários de crack e oxi.
Eles poderiam ser mais bem atendidos em pequenas clínicas terapêuticas e unidades de desintoxicação.

Mas estas, na concepção dominante no Ministério da Saúde, padecem de um defeito: não são estatais.
Nem sequer iniciativas inovadoras dos governos do Rio Grande do Sul e de São Paulo, por exemplo, tiveram apoio do SUS.


Travado pela ideologia e incapaz de usar melhor os recursos insuficientes que destinou à saúde, o governo Lula apelou para a pirotecnia.
Depois de anos ignorando o agravamento do problema, lançou dois planos contra o crack, em 2009 e 2010, às vésperas da eleição e no estilo de sempre: colagens de ações desarticuladas, sem instrumentos novos nem recursos adicionais, pouco ou nada implantado efetivamente.
(...)
As fronteiras brasileiras são das mais desguarnecidas do mundo.
Para cuidar dos 15,7 mil km das fronteiras terrestres - 8 mil somente com aqueles três países - temos apenas 1.600 homens do Exército.
Ações efetivas de controle diminuiriam a escala e os lucros do narcotráfico, ao aumentar o custo final da droga e, assim, conter a difusão do seu uso.
Mas as notícias dessa área não são melhores que as da saúde.

O novo governo prometeu intensificar a repressão ao contrabando de armas e drogas, mas, em vez disso, cortou o orçamento da Polícia Federal, diminuindo sua presença nas fronteiras.
Enquanto faltam efetivos e até combustível para as viaturas da polícia em terra, o projeto do avião não tripulado de monitoramento, que rendeu manchetes em 2010, também foi atingido pelo corte orçamentário em 2011.

A redução do contrabando de armas e drogas exige ações efetivas dos dois lados das fronteiras.
Porta-vozes do governo e do PT reagiram duramente à cobrança de gestões diplomáticas enérgicas nesse sentido, como se fosse preconceito contra a Bolívia, cujo plantio de coca cresceu 112% na década passada.
Imaginaram, talvez, que se estivesse criticando subliminarmente o presidente Lula, que, junto com Evo Morales, posou para fotos com um colar de folhas de coca.

Mas o fato é que o governo brasileiro se deixou levar pelas alianças externas do PT e não usou seu poder de pressão diplomática para inibir o tráfico vindo de países vizinhos, apesar dos presentes vultosos aos seus governos: à Bolívia, de onde vem perto de 60% do contrabando de cocaína, financiamentos do BNDES e um pedaço do patrimônio da Petrobrás, além de preços mais altos do gás; ao Paraguai, principal foco de contrabando de armas, US$ 3 bilhões por conta de Itaipu.
Não devia ter havido uma troca?
"O Brasil ajuda vocês e vocês se ajudam e ao povo brasileiro, combatendo o crime dentro de seus países".

Íntegra AQUI.
EX-PREFEITO E EX-GOVERNADOR DE SÃO PAULO

2 comentários:

  1. Serra está correto, as fronteiras e a policia federal estão completamente derguarnecidas, parece até que propositadamente! Onde algum país do mundo não defende o seu quintal? A quem interessa essa morbides?
    Também seria esperar muito desse desgoverno, pois ja não cuida da segurança, saúde, educação, habitação, estrutura de transportes, aposentados, inflação, quem dirá cuidar de seu portão! E ainda querem copa do mundo e olimpíadas, póde?
    Um abraço Rose,
    Francisco SP

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  2. Amigo Francisco
    Adoro teus comentários.
    Você tem sido um guerreiro no blog do senador.
    Vamos lá enfrentar as feras.
    Obrigada!

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