sexta-feira, 27 de maio de 2011

“It gets better!”

“It gets better!”. Ou: O filme que eu levaria à sala de aula
Por Reinaldo Azevedo

Porque os bons e os sensatos se calam diante das aberrações e das coisas estúpidas, abrem, então, espaço para que os nem tão bons assim se façam porta-vozes do óbvio.
É o que me ocorre dizer ao pensar no veto ao tal “kit gay” preparado pelo governo federal para ser distribuído às escolas.

Já apontei as impropriedades dos filmes; acusei — e quase toda a imprensa silenciou a respeito — até mesmo um erro grosseiro de matemática presente em um deles; demonstrei que não se trata de um trabalho conduzido por educadores, mas por prosélitos.

E é neste ponto que reside o problema: o MEC e as ONGs envolvidas no projeto, lamento afirmar, não estão ocupados em combater a discriminação coisa nenhuma; estão empenhados, isto sim, em produzir ideologia.

As pessoas reais não importam, mas a guerra de valores que eles pretendem promover.

Lamento!
Educação é coisa séria demais para ficar na mão de militantes.
Só está assim porque Fernando Haddad, como ministro, é um falastrão irresponsável.

Faz sentido exibir um filme em sala de aula em que o garoto se descobre bissexual e acaba concluindo que, assim, a probabilidade de ele ficar com alguém cresceu 100% — as cavalgaduras do MEC dizem “50%”?
Seria essa uma das muitas manifestações do “orgulho gay”?
Orgulho de quê?
Por que alguém deveria se orgulhar disso — condição que, de resto, sabem todos, costuma trazer dor, solidão, desamparo?

Eis o problema: a militância que orienta os filmes não está preocupada em debater tolerância e convivência entre as diferenças.

O estúdio Pixar gravou um filme com testemunhos de funcionários seus que são gays.
O objetivo é combater a discriminação.
Se ainda fosse professor, eu próprio o exibiria em sala de aula.
Chama-se “It Gets Better”.



Tudo o que precisa ser dito e debatido em sala de aula está aí.
Em primeiríssimo lugar, resta evidente que não há uma só pessoa que escolheu ser homossexual — porque isso, afinal de contas, não é uma escolha.
E essa não é uma verdade desse grupo.
É uma verdade universal.
Algumas pessoas são e ponto final!

Não se trata, à diferença do que disse Dilma — despreparada para o debate que seu próprio governo mantém —, de uma “opção”.

Fica também evidente que todas essas pessoas, em maior ou menor grau, sofreram.
Antes que alguém as intimidasse com a discriminação, elas próprias se martirizavam porque se sabiam diferentes — afinal, uma minoria, sim!
E o vídeo as exibe agora felizes, muitas em companhia de seus parceiros, com amigos, exercendo o seu trabalho.
E insistem que as coisas podem melhorar.

O trabalho do MEC é estúpido — coisa de gente primária, despreparada, que nunca pisou numa sala de aula porque,

— em vez de buscar a integração, ele discrimina;
— em vez de investir no núcleo que nos torna a todos — héteros, gays e aquelas letrinhas da militância para designar subgrupos — humanos respeitáveis, responsáveis, capazes de uma vida civilizada, busca alargar as diferenças.


É preciso ignorar a realidade psicológica e sociológica de alunos de 15, 16 anos, idade em que mais se acentua a afirmação da masculinidade, para acreditar que uma fábula ridícula, em tom de exultação e exaltação, do garoto que se descobre bissexual vai convencer, comover ou mover alguém.
O efeito, ao contrário do que se imagina, poderia ser desastroso.
Os rapazes menos agressivos, independentemente de sua condição sexual, seriam alvos imediatos da chacota.
Por quê?
O MEC não está preocupado em dizer aos héteros que reconheçam nos homossexuais pessoas íntegras, inteiras, com direito à felicidade, às quais nada falta.
E que, como todo mundo, precisam de respeito, de afeto, de compreensão.
Seu objetivo é advogar a especialidade, a excepcionalidade positiva.
Essa gente é tarada na “discriminação positiva”!

Faltam a essa turma que elaborou o material experiência em educação, conhecimento de causa, informação.

Notem que o filme da Pixar praticamente não trata de sexo.
São testemunhos de indivíduos.


Os do MEC foram feitos por “sexólatras” — não se esqueçam que uma das versões inicialmente aprovadas trazia um beijo entre duas garotas, e só a profundidade da língua é que gerou debate, segundo um então auxiliar de Haddad.
O objetivo não era levar informação a héteros e homos sobre a sexualidade humana; não era promover o respeito à diferença, mas fazer proselitismo de estilos de vida.
Os militantes tomaram o lugar dos educadores e produziram aquela porcaria.

E esse tem sido um problema permanente da nossa democracia.
O estado está sendo tomado de assalto por minorias organizadas que pretendem impor a sua pauta, independentemente da vontade da maioria e de suas instâncias de representação.


É assim em todas as áreas.
Os Verdes de Marina Silva acham que o Congresso não tem de se meter com meio ambiente porque isso é coisa de sua militância; os gays organizados acham que os educadores e os héteros não têm que se envolver com o material anti-homofobia porque isso é coisa de sua militância; os negros organizados acham que os não-negros não podem participar do debate de cotas porque isso é coisa de sua militância; mulheres organizadas defendem que o aborto seja decidido em plebiscito por mulheres porque isso é coisa de sua militância; os maconheiros organizados acham que os não-maconheiros não tem legitimidade para debater a descriminação de drogas porque isso é coisa de sua militância…

Vivemos a era burra da sindicalização do espírito.
Um dia isso passa.
Vai melhorar.

It gets better!

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