segunda-feira, 9 de setembro de 2013

GOVERNO BRASILEIRO É BENEFICIÁRIO DA ESPIONAGEM NORTE-AMERICANA

Governo brasileiro e serviço de Inteligência verde-amarelo são beneficiários da espionagem feita pelos americanos; escarcéu com casos Dilma e Petrobras está mais voltado para a política doméstica do que para a externa

Será que o governo brasileiro está mesmo “surpreso” com a espionagem feita pelos americanos? Será que não se beneficia, em nenhum momento, dos dados colhidos pela agência americana encarregada do assunto, a NSA? Já chego lá. Antes, algumas considerações.
Até agora, as denúncias bombásticas feitas por Glenn Greenwald sobre a terrível espionagem que os EUA teriam feito contra a presidente Dilma e a Petrobras não vão além de hipóteses. O barulho é espantosamente superior à gravidade dos fatos evidenciados.  Se os documentos são mesmo secretos, e parece que são, por que não há detalhes sobre invasões? 
Em post publicado nesta manhã, evidencio onde estão os evidentes pés de barro dessa história. Denúncias como essas, Greenwald deve ter aos milhares. Basta que selecione da montanha de dados de que dispõe aqueles que dizem respeito ao Brasil, e pronto! Vai parecer que vivemos sob a permanente vigilância dos EUA, temerosos dos perigos que representam nosso “je ne sais quois”…
A menos que Greenwald esteja escondendo o ouro (negro!), não vi a menor evidência de que a “espionagem” estivesse ligada às questões do pré-sal, nada, nenhuma vírgula. São só conjecturas, levantadas para, sei lá, demonstrar por que podemos ser alvos da cobiça internacional, já que os espiões não poderiam estar interessados nos métodos de gestão da Petrobras. Se a empresa produzisse linguiça, seria o caso de especular se estariam cobiçando nossos rebanhos. O governo federal, no entanto, faz um estardalhaço danado com isso. Nem poderia ser diferente. Tem um filezão também eleitoral nas mãos.
A VEJA desta semana traz uma entrevista de Thomas Shannon, que foi embaixador dos EUA no Brasil até o último dia 6. Votou aos EUA para ser assessor especial do secretário de estado, John Kerry. Liliana Ayalde foi nomeada para ocupar o seu lugar. Na conversa com o jornalista Diogo Schelp, Shannon faz algumas considerações que merecem reflexão — sim, claro!, ele tem todo o interesse em diminuir a tensão — e, entendo, faz também o que pode ser considerado uma revelação, embora de escandalosa obviedade. Comecemos pelo mais importante.
Será que o Brasil também se beneficia das informações colhidas pela agência americana, especialmente com uma Copa do Mundo e uma Olimpíada pela frente? Será que o nosso país teria condições de oferecer a devida segurança a esses eventos sem a colaboração da espionagem americana? Reproduzo (em azul) um trecho da conversa, notando que o Ministério da Justiça e o Itamaraty, que estão vestidos de indignação verde-amarela, poderiam vir a público para dizer que não é assim ou, então, recusar a colaboração. Leiam. Volto em seguida.
(…)
Por monitorarem também o fluxo de informação fora dos Estados Unidos, esses programas não ferem as leis internacionais ou de outros países?

Infelizmente não sou especialista em direito internacional, por isso não posso responder nem que sim. Nem que não. Pode-se, no entanto, argumentar que a segurança nacional é um direito primordial de um país. Imagino que a espionagem tenha pouco respaldo no direito internacional, mas existe muita cooperação entre os países para o compartilhamento das informações conseguidas. Temos a convicção de que a segurança nacional não é só nossa. Vivemos em um mundo globalizado e conectado. Temos aliados e prezamos sua segurança, e também a de instituições multilaterais como a ONU. A ideia é cooperar e compartilhar da maneira que podemos.
A Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) se beneficiam dessa coleta de dados feita pela NSA?

É melhor perguntar a elas. Kerry disse, em sua visita, que essas informações foram compartilhadas com autoridades brasileiras em várias instâncias. Temos um diálogo importante com a Polícia Federal e com a Abin sobre temas de interesse mútuo.
Quais temas?

Infelizmente, não posso entrar em detalhes, mas posso dizer que o Brasil, sendo o país que é hoje, importante, globalizado e que vai sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada, teve de desenvolver a capacidade de se proteger e de garantir a segurança das pessoas que vão frequentar esses eventos. Para isso, o Brasil está se aproveitando de relações com diferentes países, não apenas com os Estados Unidos, para melhorar a troca de informações e a sua capacidade de inteligência.
Então os pedidos de explicações aos Estados Unidos sobre os programas de espionagem não são justificados, já que o próprio governo brasileiro se beneficia diretamente das informações coletadas?

Entendemos as preocupações do governo brasileiro, e as levamos a sério. Por isso estamos construindo esse processo de diálogo entre os nossos governos. Eu não vou dizer que não são preocupações justificadas. Essa é uma avaliação que só o Brasil pode fazer. O que estou dizendo é que há algumas informações obtidas por nossos programas de monitoramento que estamos dispostos a compartilhar, e é o que temos feito.
(…)
Voltei
Ah, bom! Então o Brasil também é beneficiário da necessária espionagem feita pelos EUA, não é isso? Então não procede a conversa de Luiz Inácio Apedeuta da Silva, que andou dizendo por aí que não precisamos dos americanos pra nada…
Não sou especialista em espionagem. Que eu saiba, por aí, ninguém é. Os que são costumam estar prestando serviços para governos ou para bandidos — em qualquer caso, não falam. Mas os indícios de que estamos diante de um caso que está sendo hipertrofiado pela ignorância de causa — não de Edward Snowden ou de Glenn Greenwald, que sabem muito bem o que fazem — parecem evidentes.
Será mesmo?
Mas será mesmo o Brasil um dos principais alvos da espionagem? Pois é. Vale a pena ler mais uma pergunta e mais uma resposta.

O que são, então, X-Keyscore, Fomsat e outros programas de espionagem que, segundo os documentos secretos vazados pelo ex-analista de inteligência Edward Snowden, funcionam dentro das embaixadas americanas?

Até agora, o meu governo falou publicamente desses programas de maneira bem cautelosa. Eu não vou além. porque essa é uma conversa entre governos. Foi por isso que o Brasil enviou um time de técnicos para conversar com membros dos nossos serviços de inteligência e que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. foi recebido em Washington pelo vice-presidente Joe Biden e pelo secretário de Justiça Eric Holder. Ressalto, porém, que o jornal O Globo (que divulgou documentos sobre a atuação da espionagem americana no Brasil) apresentou essa informação de maneira sensacionalista e fora de contexto. Ele não captou bem a realidade dos nossos programas, especialmente no que se refere ao Brasil. O país não é o alvo desses programas, mas sim um dos mais importantes centros de conectividade para o mundo. O Brasil é o quarto ou quinto hub (centro que recebe e redistribui dados) de comunicações do mundo. Diferentes organizações e grupos que são de interesse do meu e de outros governos usam esses hubs para se comunicar. para esconder e para compartilhar seus planos de ação. Nós desenvolvemos a capacidade de medir o fluxo de informação, especialmente aquela que parte de organizações ou de países sensíveis.
Voltei
De fato, o país é o quarto ou quinto hub do mundo. Qualquer programa daquela natureza, do qual o governo brasileiro é beneficiário, poderá fornecer a impressão, assentada ou não na realidade, de que o país é alvo por excelência da espionagem.
“Ah, o Reinaldo agora acredita no embaixador americano…” Não! Estou apenas pondo as coisas em perspectiva. Fosse matéria de crença, em quem eu deveria apostar as minhas velas? Num ex-agente da CIA que rouba documentos, refugia-se na Rússia e arruma como vazador das informações roubadas um jornalista notadamente antiamericano (ainda que nascido nos EUA), que sustenta, com base em coisa nenhuma, que a maior parte da espionagem feita nada tem a ver com terrorismo?
Eu não estou acreditando ou deixando de acreditar. Eu estou aqui chamando a atenção para uma informação fornecida pelo agora assessor especial da Secretaria de Estado dos EUA Thomas Shannon: o Brasil é beneficiário da espionagem feita pelos americanos, e há troca regular de informações.
O escarcéu com os casos Dilma e Petrobras está mais voltado para o público nacional do que internacional; diz mais respeito à política doméstica do que à externa. Se Obama disser qualquer coisa que possa ser entendida como um “desculpem a nossa falha”, bingo! Teremos vencido finalmente o gigante do norte. Mal posso esperar para ver Lula na televisão: “A gente devia dinheiro para o FMI e agora é credor; ninguém ligava para o Brasil, e agora eles ficam espionando a gente, com medo do nosso sucesso”.
Um bom antídoto a isso seria trazer à luz as informações que os americanos forneceram aos serviços de segurança do Brasil para evidenciar que as coisas não são bem assim. Mas isso não vai acontecer porque, às vezes, ocorre de os serviços de segurança terem de ser mais prudentes do que a imprensa.
Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário