domingo, 14 de setembro de 2014

CRÍTICA NÃO É TERRORISMO; TERRORISMO NÃO É CRÍTICA

Marina, Dilma e Aécio: crítica não é terrorismo; terrorismo não é crítica. Ou: “Esse cara sou eu”

Por Reinaldo Azevedo
Vamos botar um pouco de ordem no debate, né? Afirmar que Marina Silva, se eleita, vai cortar R$ 1,3 trilhão da educação, como faz o PT, é terrorismo vigarista. Qual é a lógica? “Ah, é que ela não vai explorar o pré-sal, e aí vai faltar o dinheiro que iria para a área.” É um discurso pilantra. Mais ainda: tentar associá-la ao fundamentalismo cristão, como fazem as milícias do sindicalismo gay petista, é, igualmente, má-fé. Mas alto lá!
Lembrar que dois presidentes se elegeram acima de partidos e conduziram o país à crise é só apreço pela história. “Ah, mas Marina é diferente de Collor e Jânio.” Eu sei, e estes, por sua vez, eram diferentes entre si. Em sentido mais geral, os homens são apenas iguais a si mesmos — e, ainda assim, tomados num corte sincrônico, não é? Diacronicamente falando, podem variar bastante. Vamos parar de “mi-mi-mi”! Marina tem de explicar suas contradições, a exemplo de qualquer outro.
Nesta quinta, Marina recorreu ao Twitter (ver post) para afirmar que Aécio faz uma desconstrução de sua figura pública que em nada fica a dever ao PT. Lamento! Mas é falso. Também no Twitter, o candidato do PSDB à Presidência lembrou que ele está a fazer crítica política. E se desafia aqui qualquer marinista convicto ou marineiro tático ou estratégico a apontar onde está a baixaria.
Olhem: considerando o que afirmou o neomarinista Walter Feldman nesta terça-feira em conversa com lojistas (ele previu o fim do PSDB se Marina vencer) e o que afirmara Beto Albuquerque numa reunião promovida por um banco na segunda (especulou que o baixo clero seria atraído pela peessebista em caso de vitória), até que a reação de seus adversários, nesse particular, foi modesta. Então um grupo político sustenta que vai fazer as reformas política, eleitoral, tributária, fiscal e administrativa apostando na dissolução de partidos? Tenham paciência!
Quem me conhece sabe que sempre estou ou de um lado ou de outro do muro; em cima, nunca! Desta feita, talvez eu tenha descoberto meu lado quântico, né? Torço pela derrota de Dilma por tudo o que essa gente representa de incompetência, de truculência e de falsificação da história, mas o que sei me impede de torcer pela vitória de Marina. A menos que ela conserte esse discurso que considero meio aloprado. Não posso fingir o que nem penso nem sinto. Se não for para ser absolutamente honesto com os leitores, pra que fazer este blog?
Nesta quinta, na entrevista que concedeu ao Globo, Marina afirmou: “O que ameaça o pré-sal é o que está sendo feito com a Petrobras. [...] Como as pessoas vão confiar em um partido que coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da empresa?”. É duro? É duro! Mas o ataque faz todo o sentido. E, com efeito, à diferença do terrorismo petista, sua afirmação está baseada em fatos.
Dilma decidiu responder: “Eu considero que a candidata Marina tem de parar de usar suas conveniências pessoais para fazer declaração. Ela ficou 27 anos no PT. Todos os seus mandatos, ela obteve graças ao Partido dos Trabalhadores. Dos 12 anos aos quais ela se refere, em oito ela esteve no governo ou na bancada no Senado Federal. Não é possível que as pessoas têm (sic) posições que não honrem sua trajetória política e se escondem (sic) atrás de falas que não medem o sentido dos seus próprios atos durante a vida”.
Parte da resposta faz sentido e é questão pública e inquestionável. De fato, em SETE (não oito) desses 12 anos, Marina foi beneficiária do condomínio de poder liderado pelo PT. E Dilma não comete maldade nenhuma ao lembrar disso. Mas se comporta como uma autêntica “companheira” quando, em seguida, sugere que, em razão da condição partidária, mesmo que pregressa, Marina deveria se calar sobre a lambança. Criticar a roubalheira da Petrobras, presidente, não é mudar de lado, mas assumir o lado certo do debate. O outro, afinal, é o dos ladrões.
“E você, Reinaldo? Qual é o seu papel?” Como jornalista, é analisar o processo político com as paixões intelectuais que tenho — e eu as tenho. Mas sem paixões partidárias. Segundo o meu ponto de vista, ainda espero razões para votar em Marina. Só o fato de ela não ser do PT não me basta.
“Esse cara sou eu”, como disse aquele.

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