sexta-feira, 5 de setembro de 2014

EM BUSCA DO MESSIAS

Não sou só eu, quem tem censo crítico se impressiona com a onda de idolatria tupiniquim em pleno século XXI.
Sandro Vaia



Os principais- e também os secundários- candidatos à presidência do Brasil, encontraram-se pela última vez num debate vespertino na tela do SBT, um canal de onde você espera que surja a qualquer momento uma pegadinha do Ivo Holanda, uma velhinha surda da Praça da Alegria, ou o patrão atirando aviõezinhos de dinheiro para suas “colegas de trabalho”.

Em terceiro lugar na audiência, com 5,4% de Ibope (metade da audiência do Programa Silvio Santos aos domingos), os três principais candidatos, Dilma, Marina e Aécio, revezaram-se com os nanicos pastor Everaldo, Levy Fidelix, Luciana Genro e Eduardo Jorge, num festival de platitudes, obviedades e lugares comuns de fazer corar um Tocqueville de pedra.

Só o candidato do PV, Eduardo Jorge, pôde exercitar seu recém descoberto talento histriônico e arrancar algumas gargalhadas com gags que divertiram a plateia. A adolescente tardia Luciana Genro mostrou apenas a dificuldade que certa esquerda tem de estabelecer relações causa/efeito.

Os candidatos pra valer, repetiram basicamente o roteiro do debate anterior, com uma visível mudança de alvo, provocada pela “onda” Marina: foi o Ente da Floresta que se transformou em vítima dos anacolutos da presidente, que voltou para ela a artilharia descontruidora do discurso petista.

Marina procurou responder andando sobre as águas, tentando mostrar que ela paira acima do bem e do mal, pois esse é o papel de quem encarna “a nova política”, esse ectoplasma que vaga no espaço.

O leve e sorridente candidato Aécio Neves, que na opinião do cientista político Felipe Borba, da UniRio, parece estar disputando uma “partida amistosa”, tentou ser o mais propositivo de todos, e explicou pela enésima vez que, se vitorioso, o grande trunfo de sua gestão, a panaceia para todos os males em pauta (o baixo crescimento, a inflação em alta, o desarranjo fiscal, o intervencionismo, etc.), será a “previsibilidade” dos atos do governo.

Uma palavra simpática ao mercado, que não gosta de surpresas, mas quase ininteligível e impronunciável para o eleitor comum, e até mesmo pernóstica para os que esperavam do candidato um pouco mais de indignação oposicionista.

O fato é que o debate, como todos aqueles que foram feitos desde que as emissoras de televisão se viram obrigadas a engessá-los dentro dos parâmetros do politicamente correto, foi morno, indefinido e tedioso.

O embate passou para as pesquisas, para as ruas, para as redes sociais, onde surgiu, por sinal, a definição perfeita dos anseios do brasileiro, num post sobre a onda Marina, do internauta Silas Feitosa:"

Marina Silva é a cara do Brasil. Com ela, ninguém se ressente. Ela é “gente como a gente”. Brasileiro gosta disso. Não importa o que ela pensa. Isto basta. Com essa mesma lógica, o povão elegeu Lula. E elegerá quantas Marinas e Lulas vierem. Afinal, não acreditamos em administradores, gestores. Queremos um Messias”.

Alguém duvida?

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