segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A busca da verdade

Por Ricardo Noblat

O que é a verdade?
A definição mais simples: é o que está de acordo com os fatos ou a realidade.
Se digo que o vice-presidente José Alencar está muito doente, digo uma verdade.
Incontestável.

Estar de “acordo com os fatos ou a realidade” requer precisão.
Lula e seus porta-vozes abusaram e ainda abusam da imprecisão quando a tudo aplicam a fórmula genérica do “nunca antes na história deste país...”

(EU DIRIA QUE ABUSAM DA MENTIRA)

Se digo que Lula sabia da existência do mensalão antes que ela fosse denunciada pelo ex-deputado Roberto Jefferson, posso não estar dizendo uma verdade incontestável – Lula jamais o admitiu.
Nem foram recolhidas evidências de sobra de que ele de fato soubesse.
Mas posso não estar mentindo.
A verdade é também uma questão de julgamento relativo.

Como funcionaria dentro do governo, com ramificações em gabinetes a poucos metros do gabinete presidencial, uma “sofisticada organização criminosa” que tentou se “apoderar de parte do aparelho do Estado” - e Lula simplesmente não fazer a mínima idéia disso?

O mensalão não se limitou ao pagamento de propinas a deputados.
Serviu para animá-los a trocarem de partido.
E a partidos a trocarem de lado.

Em um apartamento de Brasília, antes de se eleger presidente em 2002, Lula assistiu à compra pelo PT do passe do PL do deputado Valdemar Costa Neto (SP).
Custou mais de R$ 6 milhões.
Na ocasião, junto com ele, estavam Alencar, José Dirceu e Delúbio Soares.

Foi o então governador Marconi Perilo, de Goiás, quem primeiro falou com Lula sobre o esquema de suborno de deputados.
Ele não reagiu.

Dirceu repetiu mais de uma vez antes e depois de ter sido despejado do governo: "Nada fiz à frente do PT ou como ministro da Casa Civil que Lula não estivesse informado".

Não foi desmentido por Lula nem por ninguém.
Dirceu é um dos 40 denunciados no Caso do Mensalão.
E então: posso afirmar com razoável margem de acerto que Lula sabia de tudo?

Se ele pode dizer que a história do mensalão não passou de uma tentativa de golpe contra seu governo, encontro mais amparo na realidade para afirmar que ele sabia, sim, do mensalão.
Baseio-me em fatos, em antecedentes e em deduções óbvias.
Ele, apenas em sua imaginação.

O que fez mesmo a oposição para derrubá-lo?
Via Aécio Neves, conspirou para que ficasse no cargo.


Quando em apuros, autoridades em geral costumam exigir que a imprensa só publique a verdade, nada mais que a verdade, como se assim pudessem ser beneficiadas.
Mas na maioria das vezes são elas próprias que fabricam falsas verdades para encobrir verdades incômodas.
Ou são elas que transfiguram verdades a ponto de torná-las irreconhecíveis.

Isso está longe de significar que a imprensa, por má fé ou erro, não publique mentiras.
Por si só é o que basta para lhe causar grande dano, atingindo-a no seu patrimônio mais precioso - a credibilidade.

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