sábado, 18 de dezembro de 2010

Mistificações

No blog do Alon

É razoável que a participação de Dilma Rousseff na luta armada contra a ditadura tenha sido objeto de atenção na campanha eleitoral.
Um subproduto indesejado, porém, é a luta política contaminar excessivamente a observação histórica.
É inevitável, mas as taxas andam acima do recomendado pela razoabilidade.

Se a mitologia da direita alimenta o espectro do "terrorismo" supostamente praticado por organizações políticas da esquerda, esta última adquiriu a mania de responder à mistificação com outra: de que a luta armada foi o único recurso restante a quem desejava combater a ditadura.

Seria, então, ou a guerrilha ou a passividade.

Bonito, mas completamente furado.

A luta armada foi integralmente derrotada no início dos anos 70.

Seu último suspiro foi o Araguaia.
Mesmo assim dez anos depois a ditadura caiu, culminando uma longa agonia, iniciada na eleição de 1974.

Se o único meio de luta possível era o militar, e se as atividades militares da oposição haviam cessado mais de uma década antes, quem e o que derrubaram o regime?
Seria um mistério e tanto.

A escapatória mítica da "ausência de opção" exibe esse buraco lógico.

A luta armada naquela época não foi resultado da ausência de alternativas, mas uma opção política.

Parte da esquerda considerou que o golpe de 1964 contra Jango Goulart havia comprovado o esgotamento da chamada "democracia burguesa", e portanto da possibilidade de transformações progressistas por meios pacíficos.
Era descrito na época como o "colapso do populismo".

Juntaram a isso o entusiasmo com as revoluções chinesa e cubana e arremataram a receita.

Deu errado, como se sabe.

O que deu certo foi outro caminho, de participação nos espaços políticos remanescentes para a oposição, de engajamento firme no processo eleitoral, de reorganização da resistência social, a começar do movimento estudantil.
A luta pela redemocratização como é bem conhecida dos historiadores.


Deu tão certo que relativamente pouco tempo depois o regime foi obrigado a revogar o discricionário Ato Institucional número 5, abrindo ainda mais espaço para a ação política pacífica.

Não foi coincidência o movimento operário do ABC ter emergido depois da revogação do AI-5.
E não antes.


As grandes mobilizações que desfecharam os golpes finais no autoritarismo foram principalmente "CONSEQUÊNCIA" dos espaços arrancados pela resistência democrática, não "CAUSA".

Outra mistificação é dizer que quem enfrentou o regime de armas na mão fê-lo por ter mais coragem.

Coragem é atributo difícil de medir, ou de comparar, mas enfrentar uma ditadura desarmado costuma ser ato de enorme coragem.
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Aplaudo o texto e me permito omitir os trechos sobre os quais tenho algumas discordâncias.
Alguns aspectos eu considero mais graves do que versões fantasiosas que se vendem como mercadorias de consumo.
Pessoas da minha família participaram disso que denominaram luta armada.
Eram idealistas?
Longe disso, eram rebeldes e violentos, encontraram nesses grupos a adrenalina que alguns liberam quando praticam esportes radicais, outros, infelizmente, quando se envolvem com o crime organizado.
Diziam que as lideranças captavam fortunas, porém, enquanto os verdadeiros heróis - os registros comprovam - adotaram a estratégia e a sabedoria, buscando sempre a negociação hábil e inteligente, pouco se tinha conhecimento dessas figuras que viviam na clandestinidade, escondidos e até transfigurados por cirurgia plástica.

O que seria isso senão o medo?

Onde estava a até então desconhecida Dilma Roussef que nem uma foto desses tempos é capaz de apresentar?
Quem mostrou a cara e enfrentou os militares com maestria podem ser vistos em qualquer cena de inúmeros documentários sobre o tema, e lá não estavam esses que se auto-proclamam os defensores da Pátria.
Como diz o texto, lula veio depois, talvez com o patrocínio dos próprios militares.
Aliás, até hoje continua a incógnita sobre quem realmente patrocinou seu curso de liderança sindical nos Estados Unidos da América e sobre sua tardia prisão.
Como dizem alguns sindicalistas mais valentes, o teatro foi armado somente quando perceberam que pegaria mal se a população percebesse que, dentre os líderes de sindicatos, apenas ele não havia sido encarcerado.

Volto à questão que me preocupa, a verdadeira aula de técnicas de guerrilha (ou terrorismo), incluindo sabotagens e sequestros, pregadas nas prisões aos bandidos da época, que não passavam de ladrões de galinha.
Desde então o crime se aperfeiçoou e está cada dia mais insuportável viver num país sem o mínimo de segurança.
Se devemos algo a esses "companheiros" é justamente o processo de evolução da violência e do crime.

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