segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

“O falso rigor fiscal esconde a falta de rigor”

Serra sobre governo Dilma:
“O falso rigor fiscal esconde a falta de rigor”


O Globo de hoje traz uma entrevista de página inteira com o tucano José Serra. Abaixo, leia um trecho que está no Globo Online:

Depois de um período sabático de quase três meses, o ex-governador e candidato derrotado do PSDB à Presidência da República, José Serra, começou há duas semanas a retornar, aos poucos, à cena política.
Esteve na Câmara para uma reunião com a bancada tucana em meio à discussão sobre o reajuste do salário mínimo, apareceu em uma feira agropecuária no Paraná e, em seu escritório, em São Paulo, voltou à agenda de reuniões políticas.

Nesta primeira entrevista ao GLOBO, após a derrota eleitoral, concedida sob a condição de que fosse por e-mail, Serra diz que vê em marcha um “estelionato eleitoral” ao comentar o início do governo Dilma.
É contundente ao negar eventual intenção de lançar um novo partido e fala da adaptação à vida “normal”.
Dias depois da votação do salário mínimo, considera que oposição se “saiu bem”.

Apesar de as especulações sobre o seu futuro político, o ex-governador nega que haja um movimento em curso para levá-lo à presidência do PSDB.
Afirma que não é hora de fazer essa discussão, mas não rechaça a possibilidade, como faz categoricamente quando perguntado se vai disputar eleições em 2012.
Sobre a disputa presidencial de 2014, Serra considera o debate neste momento uma “perda de tempo”.


O GLOBO: Como o PSDB se saiu na votação do salário mínimo na Câmara, primeiro teste da oposição na gestão Dilma Rousseff?

JOSÉ SERRA: O PSDB se saiu bem, e o mesmo vale para nossos aliados. A bancada caminhou unida e de maneira clara e firme.
O partido defendeu com força e razões a proposta dos R$ 600.
Há uma outra questão importante apontada pelo deputado Roberto Freire.
O projeto que a maioria governamental aprovou na Câmara é inconstitucional, pois permite ao Executivo legislar sobre o salário mínimo por decreto nos próximos três anos.


O GLOBO: Parte do PSDB, liderado pelo senador Aécio Neves, chegou a flertar com as centrais sindicais para apoiar um mínimo de R$ 560 e abandonar a proposta de R$ 600, bandeira da sua campanha.
Como o senhor viu esse movimento?

JOSÉ SERRA: Ponto um: é evidente que o PSDB deve dialogar com os sindicatos, centrais sindicais, associações, universidades.
Deve apoiar e ser apoiado quando há convergência de pontos de vista, em torno de ideias e propostas concretas.
Ponto dois: no reajuste do salário mínimo, a Força Sindical defendia R$ 580, muito mais próximos da nossa proposta de R$ 600 que do decreto do governo, de R$ 545.
Só nos últimos dias, diante do rolo compressor do governo, as centrais começaram a mencionar os R$ 560.
Agora, qualquer conversa do PSDB com entidades da sociedade civil deve ter o interesse do país como bússola.
Não o interesse partidário ou o da corporação.


O GLOBO: O senhor tem usado bastante o Twitter para criticar e cobrar ações do governo Dilma.
O que destacaria deste início de governo?

JOSÉ SERRA: O destaque é o estelionato eleitoral.
Há quatro meses falavam em investir num monte de coisas, milhões de casas, milhões de creches, de quadras esportivas, de estradas, de ferrovias.
A realidade é que está tudo parado, a herança maldita deixada por Lula é gigantesca em razão do descontrole dos gastos, dos maiores juros do mundo, da desindustrialização.
A montagem do governo foi um festival de barganhas e, antes de terminar o segundo mês, ainda tivemos o bloqueio a um salário mínimo melhor, o escândalo de Furnas e a não apuração dos escândalos da Casa Civil.
Não é à toa que a presidente fala pouco e nunca de improviso.
O atual governo optou por fingir que nada disso é com ele.


O GLOBO: Qual a sua avaliação sobre a postura do governo Dilma nesse primeiro teste da presidente no Congresso?

JOSÉ SERRA: Lamentável.
Está à vista de todos: oferece cargos, loteia o governo, promove a troca de favores não republicanos em troca da submissão de parlamentares.
O valor do mínimo está sendo usado para o governo evidenciar ao mercado um rigor fiscal que ele absolutamente não tem.
O falso rigor esconde a falta de rigor.
Por que não começam pelos cortes de cargos comissionados ou dos subsídios, como os que são entregues ao BNDES?
São uns 3% do PIB, R$ 110 bilhões.
O governo está inflando despesas de maneira enganosa ou vai falir o país em um ano.
Dou um exemplo: as despesas de custeio foram de R$ 282 bilhões em 2010.
O orçamento deste ano diz que o governo vai gastar R$ 404 bilhões: um aumento de 43%.
Os restos a pagar do governo Lula se elevam só neste ano a R$ 129 bilhões.
Quer apostar como vão cancelar muitos dos projetos, depois de servirem como instrumento para atrair votos na campanha?


O GLOBO: Após uma vida dedicada à política, o que diria aos eleitores de José Serra?

JOSÉ SERRA: Que tenho ainda uma longa trajetória na política, energia, coerência e vontade para saldar minha dívida com cada um.
E que, esteja onde estiver, nunca os decepcionarei.
Na vida pública nunca me servi do povo, sempre fui seu servidor.


Íntegra AQUI.

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