segunda-feira, 29 de julho de 2013

FRANCISCO PÕE A IGREJA A SERVIÇO DOS FIÉIS

Papa encerra sua primeira viagem internacional fazendo do Brasil um altar de onde cobra mais proximidade dos sacerdotes com os cristãos do mundo todo. Aos jovens, deixa um pedido para viver a fé com alegria e coragem

João Marcello Erthal, Carolina Farina e Cecília Ritto



No sexto dia de uma semana de mensagens dirigidas aos jovens, aos políticos, aos sacerdotes, aos usuários de drogas e até aos manifestantes, Francisco dissolveu, diante de uma multidão estimada em 3 milhões de pessoas, acampada entre o Atlântico e os prédios de Copacabana, os vestígios de dúvida sobre os caminhos que traça para a Igreja Católica. O mar de fiéis festejava o início da vigília na 28ª Jornada Mundial da Juventude, numa faixa de areia castigada pelo vento constante de uma noite atipicamente gélida no Rio de Janeiro. Jorge Mario Bergoglio citou São Francisco de Assis diante do crucifixo. “Francisco, vai e repara minha casa”, lembrou o papa, citando palavras de Jesus ao jovem que se tornou frei. A voz, agora, é dele, Francisco, e quem ouve é uma massa que embaralha nacionalidades e classes sociais, a quem pede “coragem” e a quem chama de “construtores de uma Igreja mais bela”. Ao se despedir do Brasil, na noite deste domingo, o pontífice deixou entre os católicos brasileiros a sensação de que há alguém nos altares disposto a ouvir e falar mais. A visita também envia, para o resto do mundo, a ideia de que a transformação começou.

É imensa a espontaneidade do papa. Perde seu tempo quem tenta encontrar, nos gestos de humildade, alguma incoerência do argentino que ocupa o trono da Igreja e abre mão dos privilégios a ele conferidos através dos séculos. Foi o “estilo Francisco” a primeira mensagem recebida no Brasil, chamando a atenção de quem, por ventura, não tenha tomado conhecimento do novo papa e do que ele quer dizer aos católicos: o papa exigiu um carro simples, andou de vidros abertos, dispensou o guarda-chuva para a caminhada até o hospital de dependentes químicos, no meio de chuva forte. O pontífice não descansou do primeiro ao sétimo dia da viagem – a sua primeira como papa. Apresentou, em capítulos, aos fiéis e sacerdotes, os sinais do que pode ser um novo tempo para uma instituição voltada excessivamente fechada em si mesma, que deixou seu rebanho exposto ao assédio de crenças que não usam meias palavras - com destaque, no Brasil, para as correntes evangélicas, que avançaram enquanto os católicos perderam cerca de 1,7 milhão de fiéis, um encolhimento de 12,2% em uma década, segundo o IBGE.

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Francisco fala sem pompa, sem rodeios. Aos jovens, de forma geral, pediu fé, o abandono aos “falsos ídolos”, e que sejam protagonistas de sua trajetória como cristãos. 

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Aos jovens

"Vão. Sem Medo. Para servir".

"A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que os caracteriza".

"Queridos amigos, não se esqueçam: vocês são o campo da fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor".

"Não permitam que outros sejam protagonistas da mudança. Vocês têm o futuro em suas mãos, o futuro vai chegar através de vocês. Peço que se envolvam nesse trabalho por um mundo melhor".

"A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam. Um grande apóstolo do Brasil, o bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas 19 anos. Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem".

"Esta relação, este diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser conservado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os jovens querem saudar os avós. Eles saúdam os seus avós com muito carinho e lhes agradecem pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem continuamente".

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Como discutir finanças com alguém que abre mão de todo tipo de regalia, que pede comida, transporte e cerimônias de tamanha simplicidade? Francisco quis mostrar em sua primeira excursão como pontífice que a simplicidade não é uma necessidade conjuntural, mas uma forma de vida que nos garante a felicidade. “É verdade que hoje mais ou menos todas as pessoas, e nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer”, falou. “Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros”, alertou, falando para o público em Aparecida, na quarta-feira, cidade à qual prometeu retornar em 2017.

Como se esperava, todos os dias havia uma mensagem dirigida aos jovens, maioria absoluta da JMJ e para os quais foi criado o encontro. Para o pesquisador da PUC-SP, Francisco tentou estimular a juventude a ser católica com fervor, não se acanhar e, principalmente, demostrar sua fé com ações. “Quem querem ser? O Cirineu que ajuda Cristo a levar a cruz ou Pilatos, que lavou as mãos?”, perguntou, depois de assistir, de volta ao Rio, à encenação da Via-Sacra.

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