segunda-feira, 29 de julho de 2013

NEM TODOS OS SANTOS

Mary Zaidan

Descortês, impróprio e deselegante, o discurso da presidente Dilma Rousseff na recepção ao Papa Francisco parece ter tido o dedo do diabo, que, é bom lembrar, ela confessou que usará para se reeleger. Ensaiada, repetiu a ladainha de que nos últimos 10 anos o governo do PT revolucionou a qualidade de vida do povo e que tudo vai de bem a melhor. Não imaginava que o Brasil mostraria a sua cara. E não por castigo divino. Mas por desorganização, falta de preparo, confiança demais na sorte ou na nacionalidade de Deus.

A Jornada Mundial da Juventude deu certo graças à simpatia, simplicidade e grandeza do Papa Francisco e à paciência dos milhares de peregrinos. No mais, errou-se. E muito.

Do bate-cabeça de autoridades frente a um papa engarrafado e vulnerável na Av. Presidente Vargas, no centro do Rio, à pancadaria entre polícia e manifestantes nas proximidades do Palácio Guanabara. Do metrô parado por horas ao lamaçal e interdição de Guaratiba, área que todos sabiam ser alagadiça. Um vexame.

Alguns dirão que não se podia prever tanta chuva em julho, época, em geral, de seca no Sul-Sudeste. Tampouco que multidões tomariam as ruas em junho, justamente quando o País recebia a Copa das Confederações, avant-première da Copa do Mundo de 2014, que também começa em julho. Com ou sem as benções de São Pedro.

O fato é que a vinda do Papa e dos milhares de fiéis à JMJ expuseram as chagas que o governo prefere encobrir a tratar. A desordem operacional, a falta de comando e a carência estrutural, e em especial os problemas de transportes públicos, escancararam as deficiências do País para a realização de eventos de grande porte. Nem mesmo no Rio, terra do carnaval, um dos maiores espetáculos do mundo.



“Imagina na Copa” deixa de ser apenas um bordão usado por aqueles que o governo acusa serem torcedores do contra. Pena que não se bradou “imagina no Papa”.

E ainda tem a corrupção, o superfaturamento. Os mega-eventos consomem bilhões do contribuinte. Daí ser um dos eixos da grita nas ruas. Os gastos com a Copa da Fifa já passam de R$ 30 bilhões – dinheiro suficiente para construir mais de 95 mil postos de saúde. Os da JMJ ninguém confessa.

E ainda tem os jogos olímpicos de 2016. Orçados em R$ 1,8 bilhão, não devem aproveitar nada dos mais de R$ 5 bilhões usados no Pan-Americano de 2007, que, ao invés de deixar o precioso legado prometido, nem mesmo conseguiu manter o Engenhão de pé.

Santa Clara ouviu as preces e o sol voltou a brilhar na cidade maravilhosa na sexta-feira. Mas obras de infraestrutura e organização não caem dos céus. Nem que se apele para todos os santos.

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