sábado, 2 de outubro de 2010

Agora é com o eleitor

Ethan Edwards fez algumas observações sobre a campanha de José Serra que merecem ser amplamente debatidas.

Num país de cultura democrática fragílima, em que recorrer à lei é identificado (por intelectuais e jornalistas que se acreditam esclarecidos) com “tentativa de vencer no tapetão”, é possível que Serra tenha desistido de avançar pelo caminho das denúncias, principalmente depois que boa parte da imprensa passou a identificar – canalhamente, diga-se – a divulgação dos crimes cometidos dentro do Planalto como uma “tentativa de encontrar a bala de prata” que o levaria ao segundo turno.

É possível, também, que, num país em que jornais noticiam, penalizados, que “psicóloga da prisão diz que Suzane Richtoffen está cada vez mais deprimida”, e em que torcedores vão à porta de delegacias para aplaudir o ex-goleiro Bruno, Serra não tenha querido fabricar mais uma vítima e colocar-se no lugar do algoz. Pois a verdade é que, no Brasil, todo o mundo se diz indignado contra a corrupção, mas a maioria não vê nenhum problema em ser amigo do corrupto, se este for gentil, passar a mão na cabeça de uma criança, sorrir, apertar mãos e arrumar um emprego público para o amigo. Serra deve ter considerado essas variáveis e optado por margear as áreas problemáticas.

Serra conhece o PT e sabe que as denúncias de corrupção atingirão a candidata oficial, mesmo que ele não as faça (o PT nunca precisou de ajuda para produzir um escândalo todo dia). Sabe que será acusado de “estúpido” e “cruel” se atacar duramente Dilma (que é avó, tem câncer, lutou contra a ditadura, lágrimas, lágrimas…), mas que se Dilma afundar como conseqüência das centenas de denúncias originadas nos mais diferentes lugares, “no habrá más penas ni olvido”. Dilma afundará sob a “opinião anônima das ruas” e ele não precisará “sujar as mãos” com isso.

É possível que Serra e seu marqueteiro estejam certos. Talvez não se possa fazer diferente num ambiente em que os inúmeros crimes eleitorais do presidente da República são ignorados ou banalizados pela imprensa e pelos bem-pensantes e uma única palavra dura da oposição é denunciada como crime imprescritível contra a Humanidade (de Lula…). Nesta eleição, o bandido, definitivamente, não é Serra nem seu marqueteiro…

Como eu disse, é um exercício de interpretação. Podem jogar as pedras.

Coluna de Augusto Nunes.

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