terça-feira, 12 de outubro de 2010

A derrota que lula já sofreu

PT vislumbra a possibilidade de Serra vencer e tenta criar clima de intranqüilidade na eleição.
Ou: A derrota que Lula já sofreu


Entre os fatores que concorreram para Dilma Rousseff não ser o estrondo que se esperava nas urnas, está, quero crer, a agressividade de Lula no último mês de campanha, especialmente depois que ficou evidente que uma quadrilha operava na Casa Civil.
Estivessem certos os institutos sérios (não creio que estivessem; os não-sérios são apenas bandidos, mas esse é outro debate), não haveria uma miserável razão, recorrendo à metáfora futebolística de que ele gosta tanto, para o presidente optar pelo jogo bruto: deu carrinho por trás, entrou de sola, foi na canela, usou pé alto, chegou mesmo a bolinar a democracia ao sugerir que era preciso eleger senadores servis ao Executivo…
Por quê?
Aquilo não era comportamento de quem estava vencendo a partida por um placar tão largo.

É que o PT, que nunca soube perder, também não sabe vencer.
A iminência da vitória no primeiro turno lhes trouxe o sonho de sempre: extirpar — Lula usou esse verbo em Santa Catarina para se referir ao DEM — os adversários.
O presidente atacou a imprensa, que chamou de “partido”; declarou-se a si e aos seus a própria “opinião pública”; cobrou, em palanque, onde estavam, afinal, os sigilos violados dos tucanos e dos familiares de Serra — em vez de condenar o jogo sujo, pediu que o crime fosse exibido em praça pública; asseverou que venceria “esse sujeito”, referindo-se a Geraldo Alckmin, em São Paulo; prometeu ser ele a pôr a faixa em Mercadante…
Arrogante!
Bruto!
Antidemocrático!
Por isso o Manifesto em Defesa da Democracia, em três semanas, passa a marca dos 80 mil signatários.
Já o manifesto do oficialismo, em apoio ao presidente, sumiu no ralo da história.

Tentam fazer crer a sociedade que só uma tramóia tira a eleição de Dilma.
Esse não é um comportamento sem desdobramentos práticos.

A sabotagem na vitória
Vitorioso em 2002, o PT passou longos oito anos desconstruindo o governo FHC da maneira mais calhorda e mentirosa possível.
Porque não bastava a Lula, dentro da lógica normal da democracia, implementar o seu programa, corrigir erros, cometer os seus próprios, acertar.
Notem: era preciso não deixar pedra sobre pedra, sustentar que nada de bom, NADA!!!, veio do governo anterior.
A edição que o marqueteiro de Dilma fez do debate da Band é uma súmula das mistificações erigidas ao longo desses anos.

Lula não tentou ser melhor do que FHC na comparação — essa é outra mentira. Ele tentou destruir o seu antecessor, como tenta destruir os seus adversários.

Sabotagem na derrota
E que partido agia assim?
Aquele mesmo que passara os oito anos na oposição sabotando o… mesmo governo FHC: lutou contra o Real, denunciou o Proer, recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, chutou o traseiro de investidores durante a privatização de estatais, votou contra o Fundef, ATACOU OS PROGRAMAS DE RENDA MÍNIMA, CHAMANDO-OS DE ESMOLA…

Agora, vislumbrada a possibilidade Serra vencer a disputa, o PT faz o quê?
Denuncia uma grande conspiração — sabe-se lá de quem; seria dos cristãos? — e, acreditem, já anuncia que, se tudo der errado, retoma o seu velho padrão, aquele celebrizado nos oito anos de oposição: sabotagem!

Falta de compostura
A falta de compostura do presidente da República no processo eleitoral, de que ele é, no Executivo, um magistrado, fala por si.
Pensem no exemplo de civilidade que deu FHC em 2002 na iminência da derrota e vejam o comportamento destrambelhado de Lula.
Aquele presidente soube ganhar e soube perder; Lula não sabe nem uma coisa nem outra.
Se vence, tenta destruir o adversário, como tentou; se vislumbra o risco de perder, denuncia uma conspiração e tenta qualificar, de antemão, de ilegítima a eventual vitória dos adversários.

Não vai colar.
Essa batalha, ao menos, o lulo-petismo já perdeu.
A não-eleição de Dilma no primeiro turno significou um “não” aos arreganhos autoritários do partido e de seu chefe máximo.
Lula pode incluir mais essa derrota em sua carreira.

Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário