sábado, 20 de agosto de 2011

Por que Paulo Bernardo não responde?

O ministro foge de pergunta sobre o uso de avião de empreiteira que faz obras públicas e financiou campanha da mulher, Gleisi Hoffmann
Andrei Meireles e Marcelo Rocha - Época

Em junho, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mergulhou em um inferno astral quando foi revelado, após uma tragédia aérea, que ele costumava viajar em aviões de empresários com grandes contratos com seu governo.

Na semana passada, um dos motivos da demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi a divulgação de que ele viajou em um jatinho de uma empresa beneficiada por decisões do ministério.

Por quatro vezes nos últimos 40 dias, ÉPOCA perguntou a Paulo Bernardo sobre suas eventuais viagens em um avião particular quando exercia o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula.
Em nenhuma dessas ocasiões, Bernardo respondeu à pergunta.

A indagação tem duas razões.
Um parlamentar que integra a base de apoio do governo Dilma no Congresso relatou a ÉPOCA que viu Paulo Bernardo embarcar no ano passado no avião da construtora Sanches Tripoloni em um terminal do Aeroporto de Brasília, usado por empresas que operam aviões particulares.
Outro parlamentar, de oposição ao governo, também afirmou que a chefe da Casa Civil da Presidência da República, a ministra Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, usou o avião em sua pré-campanha ao Senado Federal pelo Paraná.
Na ocasião, Gleisi era presidente regional do PT e não ocupava cargo público.
Bernardo era simplesmente o responsável pelo Orçamento da União e por definir as verbas para obras públicas.

Como ministro do Planejamento, Paulo Bernardo mostrou um empenho especial na construção do Contorno Norte de Maringá, no Paraná – uma obra tocada pela empreiteira Sanches Tripoloni, que já custa o dobro de seu preço original.

Inicialmente, Bernardo ajudou a liberar verbas para a obra, destinadas por meio de emendas parlamentares ao Orçamento da União.
Depois, Bernardo conseguiu incluir a construção do contorno no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que livrava o empreendimento da dependência de emendas parlamentares, sempre sujeitas a contingenciamentos e cortes orçamentários.

Em junho de 2010, Paulo Bernardo convenceu o então presidente Lula a assinar um decreto incluindo o anel rodoviário de Maringá num regime especial no PAC.
No mundo das acirradas disputas por verbas em Brasília, o regime especial equivale a um passe de mágica: assegura transferências obrigatórias de dinheiro público para o empreendimento.

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), há problemas graves na obra em Maringá, como superfaturamento de preços pela construtora Sanches Tripoloni.
A construtora é hoje uma das empreiteiras que mais recebem verbas públicas.
No ano passado, ela recebeu R$ 267 milhões do governo federal.

Na campanha eleitoral de 2010, a empreiteira e seus donos fizeram doações de R$ 7 milhões, especialmente para o PR, que comandava o Ministério dos Transportes, e o PT.
No Paraná, eles doaram R$ 510 mil para a campanha da ministra Gleisi Hoffmann ao Senado.

ÉPOCA também perguntou à ministra Gleisi Hoffmann se ela viajou no avião da Sanches Tripoloni nos últimos três anos.
Até o fechamento da edição, ela mantinha, como o marido, silêncio absoluto sobre o assunto.

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