quinta-feira, 19 de julho de 2012

Setor manufatureiro nunca esteve tão desanimado


O Estado de S. Paulo - 19/07/2012

A saúde da economia brasileira depende tanto dos investimentos púbicos como dos privados. Quanto aos primeiros, sabemos que o maior obstáculo é a incapacidade do governo de administrá-los. Já os privados requerem que haja perspectiva confiável de crescimento da demanda.
Ora, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) acaba de divulgar, mostra que, apesar dos incentivos que o governo ofereceu ao setor manufatureiro - redução do IPI, desoneração da folha de salários, redução da taxa de juros, ampliação do crédito, inclusive do BNDES, desvalorização da taxa cambial -, é o menor desde abril de 2009 e inferior, com 53,3 pontos, à média histórica de 59,6 pontos, lembrando que abaixo de 50 pontos o índice revela um estado de confiança negativa.
A razão principal desse estado de ânimo é que a indústria não acredita no modelo escolhido pelo governo e tem consciência de que sua produtividade é baixa demais diante da concorrência internacional e atravessamos uma fase em que o endividamento da população, altamente facilitado pela política do governo, não permite uma reação da demanda interna.
Caberia ao governo dinamizar os investimentos na infraestrutura do País, para gerar novas fontes de demanda e dar prioridade ao tipo de apoio à indústria que a ajude a aumentar a sua produtividade.
O Icei, examinado por setores de atividade, indica que a demanda está concentrada em bens que não dependem de importação (como alimentação), nos que não sofrem concorrência internacional, nos que não exigem aumento do endividamento ou, ainda, nos que não precisam de investimento para aumentar a capacidade de produção.
O setor de maior pessimismo é o de veículos automotores, resultado de uma certa saturação, uma vez que quem adquiriu carros de segunda mão, ao preço de grandes sacrifícios, não voltará tão cedo ao mercado e não está apto a comprar um automóvel novo, interrompendo assim o ciclo de quando o mercado de segunda mão, no seu dinamismo, ainda permitia a compra de veículos novos. Os setores de borracha e plástico parecem vítimas da queda da demanda de carros de passeio.
Já o forte recuo da confiança no setor de madeira, que viveu momento de euforia, mostra o grau de endividamento das famílias que compraram casa, mas não a podem mobiliar, enquanto a queda do setor de informática é resultado da elevação da taxa cambial nas importações.

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