sábado, 15 de dezembro de 2012

Pró-mercado?

Carlos Alberto Sardenberg, O Globo

A presidente Dilma tem dito que seu governo é pró-mercado, mas, na prática, suas políticas destilam forte hostilidade ao mercado. No primeira coluna sobre o tema, publicada aqui na quinta passada, comentamos como isso foi feito com os bancos, a partir do nobre objetivo de derrubar juros.

Fez o mesmo com as elétricas. Assim como reclamavam dos juros, todos os interlocutores da presidente também protestavam contra o preço da energia, o mais alto do mundo, sendo quase 50% de impostos (federais e estaduais).
Dilma promete a redução, cortando um pouquinho de encargos e impostos e um poucão da rentabilidade de empresas cujas concessões estão vencendo nos próximos anos. Vai pagar muito menos do que as empresas esperavam por conta de ativos ainda não amortizados e impor uma tarifa lá embaixo. Ou seja, jogou no chão os ativos e a rentabilidade das companhias envolvidas.

E sem qualquer alternativa. Disse às empresas: quer, quer, não quer, aguente as consequências.
Os acionistas minoritários privados da Eletrobras, uma estatal federal, reclamaram. As ações da estatal estão virando pó, o que faz inteiro sentido. As pessoas haviam comprado as ações com base em dados informados e expectativas formadas pela própria companhia. Se, de um dia para outro, ativos que a estatal dizia valer R$ 30 bilhões não valem nem a metade, se os lucros esperados transformam-se em prejuízo, você trata de se livrar desses papéis, não é mesmo?
Já no Palácio do Planalto, conforme informou Claudia Safatle em sua bem informada coluna de 30 de novembro no “Valor”, o pessoal acha que se trata de ataque especulativo do mercado contra a Eletrobras.

Para completar a hostilidade, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, atacou as três elétricas estatais estaduais que não aceitaram os termos do governo federal, dizendo que ficaram ao lado dos acionistas contra o povo.

Ou seja, acionistas são capitalistas predadores.

Mesmo, por exemplo, os fundos de pensão dos trabalhadores? Mesmo o pessoal que usou FGTS para comprar ações da Petrobras?

Acionistas fornecem capital bom às empresas, algo de que a economia brasileira precisa para expandir investimentos. A presidente diz isso quando informa que tem um programa para estimular o mercado de capitais.

Mas com a destruição do valor das ações do BB e de outros bancos, da Eletrobras e de outras elétricas, assim como da Petrobras, quem compra esse programa?

Haveria solução de mercado para derrubar o preço das tarifas de energia? Sim, menos impostos e mais licitações abertas.

Leia a íntegra em Pró-mercado (2)

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