domingo, 13 de abril de 2014

ESCRACHO

Mary Zaidan

Aos gritos de “fascista”, “projeto de ditador” e “tucano”, três militantes da juventude petista hostilizaram o ministro Joaquim Barbosa, na saída de um restaurante em Brasília.

“A gente fez um escracho”, definiu Maria Luiza Rodrigues, 29 anos, ao jornal Folha de S. Paulo. Ao seu lado, outros dois participantes - Andreza Xavier, 25, e Rodrigo "Pilha" Grassi, 36, este último assessor parlamentar da deputada federal Érica Kokay (PT-DF) – exibiam orgulho pela ofensa desferida contra o homem que preside a Corte Suprema do País, tido por essa turma como o carrasco do mensaleiro preso José Dirceu, a quem chamam de “guerreiro do povo brasileiro”. Não satisfeitos, ainda postaram vídeos da ação no Facebook.

O caso só veio à tona uma semana depois do ocorrido. Provocou reações de repúdio das oposições e silêncio sepulcral nas hostes petistas. Também pudera. Antes de se tornarem públicas suas transações com o doleiro preso Alberto Youssef, André Vargas (PT-PR), um dos ícones do partido e até outro dia vice-presidente da Câmara, incentivou o “escracho” com o seu punho erguido e a confessa vontade de acotovelar o mesmo Barbosa, durante cerimônia no Legislativo. Na época, o PT também desconversou.

E não venham dizer que “escracho” é liberdade de expressão. O nome do ato deixa claro que quem o pratica não tem a menor intenção de respeitar a expressão alheia.



Por mais que se compreenda militância como torcida cega, ninguém que voluntariamente põe venda nos olhos pode ser eximido de responsabilidade quando ataca, agride ou fere o outro.

Tudo piora - e muito - quando o agressor se enche de orgulho ao exibir seu feito como troféu, estimulando outros a repetir seu ato. Uma corrente insana que propaga a intolerância e atenta contra a civilidade.

Uma corrente que o PT prefere alimentar.

Coisas assim não têm limites, não param nos xingamentos dos desafetos; dão margem e cobertura a toda sorte de desatinos contra aqueles que discordam da ordem unida.

A mudez do PT no caso de Brasília e em outros, como nas provocações feitas à oposição no Rio, em Salvador e recentemente em Porto Alegre, é gravíssima. Soa como estímulo à agressão. É o “tem de ir pra cima”, dito pelo ex Lula esta semana, ou o “bater nas urnas e nas ruas”, preconizado por Dirceu ao desafiar o então governador Mario Covas, anos atrás.

Desta vez, nem jogo de cena o PT se preocupou em fazer. Com o silêncio, falou o que há tempos tenta escamotear. Disse em alto e bom som que não suporta o contraditório e pouco se importa com os valores que sustentam a democracia. Escolheu o “escracho”.

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