terça-feira, 3 de junho de 2014

ENTRE FUNDAS E ARCOS

Maria Helena RR de Sousa


Macacos de imitação do tal primeiro mundo, ainda por cima temos um ralo critério na escolha do que vamos imitar. Porém ainda temos algum, nem tudo está perdido.

O tal do politicamente correto, praga que empobrece qualquer conversa, quanto mais a Literatura, veio copiado dos States, mas não se estabeleceu por aqui. Pouquíssimos quiseram se referir ao baixinho como verticalmente prejudicado!

As cotas tiveram mais êxito. Perniciosas, posto que dispensam o esforço de quem quer conseguir alguma coisa que exija esforço pessoal e sabe que, se pertencer a alguma das categorias elencadas, o caminho está livre.

Cotas para ingresso no Itamaraty, cotas para ingresso nas universidades, cotas para isso ou aquilo, cotas que no fundo diminuem a pessoa pois ela sabe que não entrou em condições de igualdade com os demais, serão para sempre sua marca.

Com a aposentadoria precoce do ministro Joaquim Barbosa, começa um murmúrio aqui e ali sugerindo à dona Dilma que nomeie outro negro para o STF. Ainda não vi ninguém pedindo outro jurista capaz, firme, forte e determinado como o que sai. E aproveito para acrescentar um pedido pessoal: alguém que saiba, como o Marco Antonio, de Shakespeare, dizer tudo que deve dizer com a lhaneza de gestos e palavras do grande personagem shakespeariano.

Mas cotas para ingresso no Supremo Tribunal Federal? Meu Deus, aquele é um dos Três Poderes da República! Cotas? Não, ali as cotas não podem valer, ali só podem entrar os muito bem preparados, juristas de qualquer origem, etnia, crença ou gênero.

Manifestação em Brasília (O Globo) - Foto: Joedson Alves/Reuters

Índios?! Ora, claro que sim, desde que cumpram os requisitos exigidos para serem ministros do STF e que deixem lá na aldeia, para os dias de festa em suas ocas, as penas, os arcos e as flechas.

As fundas e as pedras surgiram antes do arco e da flecha. Nem por isso podemos sair por aí, como ‘davids’ de quinta categoria, a andar com pedras e fundas prontas a serem usadas.

Vamos esquecer as cotas. Não é delas que precisamos, é de escolas públicas, da creche ao fundamental, em todos os municípios do Brasil. O dia em que nossas escolas formarem rapazes e moças aptos a ingressarem em qualquer faculdade ou escola técnica, sem necessidade de vestibulares ou exames de acesso, com base somente no histórico de cada aluno, o Brasil poderá se intitular um país.

É por aí que a situação socioeconômica, que é o verdadeiro nó da questão, será sanada. O restante virá naturalmente depois.

Somente com educação de qualidade alcançaremos a tão almejada igualdade. E aí seremos todos iguais, na medida em que a natureza permitir a igualdade. O que, infelizmente, nem sempre acontece...

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