quarta-feira, 11 de novembro de 2015

VETOR IDEOLÓGICO ANTIEMPRESA DA LAVA JATO

Depoimento de empreiteiro contesta vetor ideológico antiempresa privada da Lava Jato

Ricardo Pessoa diz que doações legais eram diferentes do pagamento de propina. E reitera que PT mantinha a conta corrente da corrupção

Por: Reinaldo Azevedo

Pois é… O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC e da Constran, considerado um dos principais delatores da Lava Jato, deu um depoimento que poderia complicar bastante a narrativa até agora criada pelos procuradores, pela Polícia Federal e pela imprensa. Poderia. Não sei se vai porque ela não combina com a ideologia dos investigadores e de setores importantes da… imprensa! E não! A sua narrativa não preserva ninguém. Muito pelo contrário.

Segundo Pessoa, havia, sim, uma diferença entre o que era doação eleitoral e o que era propina. Com a devida vênia, e já chamei aqui a atenção dos senhores para o caso, o Ministério Público arrancou a fórceps, de delatores, a história de que era tudo a mesma coisa; de que a doação era só a devolução de parte do que havia sido, na prática, roubado. E por que isso? Porque há o interesse ideológico de demonizar as doações privadas de campanha. E todos foram muito bem-sucedidos nisso, não é mesmo? O STF aproveitou o clima e proibiu a doação de pessoas jurídicas.

Pois Pessoa diz que são coisas distintas. Acho que ele fala a verdade. Ou seria preciso demonstrar de que maneira candidatos da oposição poderiam ajudar os empreiteiros na Petrobras. Bem, eles não poderiam, certo?

Disse Pessoa ao juiz Sérgio Moro nesta segunda:

“Na época de campanha, as contribuições de campanha não tinham nada a ver com propina, eram contribuições de campanha mesmo. O restante, não. Era como se pagava a comissão da propina da Petrobras”.

E o que era esse restante? Ele explicou: as doações feitas ao diretório nacional do PT, por exemplo, fora do período eleitoral faziam parte de uma “conta corrente” — sim, a conta corrente da roubalheira. Segundo Pessoa, ela era controlada por João Vaccari Neto, à época tesoureiro do partido.

Em seu depoimento, ele afirmou ainda que o pagamento que efetuou a José Dirceu nada tinha a ver com a Petrobras, que o ex-ministro efetivamente prestou serviços à UTC e que ele foi uma espécie de relações públicas da empreiteira em países como Peru, Colômbia e Equador.

Notem: não se descarte, claro, que, vá lá, parte das doações eleitorais embutissem também propinas. Esse tipo de dinheiro não tem carimbo. Ocorre que o que Pessoa está denunciando é muito mais grave. Não se está falando de crimes cometidos em período eleitoral. Não! Havia uma máquina organizada para assaltar o estado, independentemente de qualquer vicissitude — provavelmente, também no período eleitoral.

Isso só demonstra a estupidez de proibir a doação de empresas privadas a campanhas. Muito bem! As legais deixarão de existir. Mas permanece a questão: como é que se vai impedir que partidos aparelhem o estado e se dediquem à roubalheira contumaz?

A narrativa de Ricardo Pessoa desconstrói o vetor ideológico, antiempresa privada e anticapital da Lava Jato. E esse vetor nada tem a ver com a qualidade da investigação. Esta até pode ser de primeira, independentemente de seu substrato valorativo.

O depoimento de Pessoa prova a estupidez da decisão tomada por maioria no STF e, curiosamente — ou nem tanto para quem atenta à historia e à origem das ideias —, apoiada pelo Ministério Público, pelo PT e pelos petistas da OAB.

Para encerrar
Quer dizer, então, que isso livra a cara de Edinho Silva? Afinal, a doação de R$ 7,5 milhões, dos R$ 10 milhões pedidos, foi feita por dentro. Era, para todos os efeitos, legal.

Não livra nada se ele mantiver a afirmação de que esse dinheiro foi conseguido depois da gentil lembrança, feita pelo então tesoureiro de Dilma e hoje ministro, de que ele, Pessoa, precisava doar mais porque, afinal, mantinha muitos contratos com a Petrobras.

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