domingo, 17 de julho de 2011

Cria cuervos

Por Mary Zaidan
No blog do Noblat


Em março de 2008, no Complexo do Alemão, no Rio, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva criava o título de mãe do PAC para a sua ministra da Casa Civil Dilma Rousseff.

“É ela que cuida, cobra, vê o andamento das coisas.”


Dias depois, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher no Congresso Nacional, Dilma aceitava a insígnia.

“Para o bem ou para o mal, eu sou a mãe do PAC”; iria se exibir assim, por mais de dois anos, em todos os palanques do país.

A idéia, bem arquitetada e bem sucedida, era disseminar a capacidade gerencial de Dilma, a escolhida.
Naquela época, a mesma penca de suspeitos tocava – e continua tocando - a maior parte dos recursos do PAC.

Aboletados no Ministério dos Transportes, com o patrocínio do ex-PL, atual PR, ali estavam o ex-ministro Alfredo Nascimento e seu chefe de gabinete Luis Tito Bonvini, os presidentes da Valec, José Francisco Neves, e do Dnit, Luiz Antônio Pagot.
O recém-defenestrado José Henrique Sadok de Sá e o atual ministro, Paulo Sérgio Passos.

Tudo e todos sob os olhos maternos de Dilma.

Difícil crer que ela não soubesse, ou não desconfiasse, das falcatruas dessa turma.
Pior: se ignorava as aves de rapina que só nos primeiros meses de seu governo foram aquinhoadas com 68,5% do dinheiro pago pelo PAC, não merecia a fama de competente.


Muito menos de mãe, dado o descaso com a cria.

O PAC está lotado de problemas. E
Não chegou nem perto das metas no saneamento ou na saúde.
Está longe de cumprir o mínimo previsto para a infraestrutura - os usuários de aeroportos, rodovias e ferrovias que o digam.

E muito menos de se livrar de obras superfaturadas, erros de projeto e indução em licitações.

De acordo com o Tribunal de Contas da União, ao Ministério dos Transportes cabe o maior naco de contratos sob suspeita, com desvios que batem na casa dos R$ 3 bilhões.
Há indícios e mais indícios de irregularidades, alguns já detectados pela Polícia Federal.

Mas Dilma só encarnou a mãe severa quando a imprensa trouxe à tona os descalabros.
Ainda assim, o fez com parcialidade, zangando-se com uns e acarinhando outros.


Manifestou confiança em Nascimento, que seria preservado se o jornal O Globo não descobrisse o fabuloso enriquecimento de seu filho.
Fez mesuras para o PR, mantido como dono e senhor da mesma sesmaria que lhe rende frutos desde o início do governo Lula.

Mãe do PAC era apenas um título marqueteiro, coisa de campanha, que nada vale hoje em dia.
Mas as falhas de lá somadas ao ziguezaguear de agora imprimem as primeiras marcas em Dilma e no seu governo.
E elas estão longe de serem animadoras para a pátria-mãe.

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