domingo, 31 de julho de 2011

Política técnica

Por Mary Zaidan -
No blog do Noblat


Toda vez que dirigentes públicos são flagrados na boca da botija lambendo o mel que não lhes pertence, insiste-se na falácia da opção por quadros técnicos em detrimento dos políticos.
Quando agem como gafanhotos famintos então, o tecnicismo vira solução única.

Uma enganação conhecida que a presidente Dilma Rousseff repete para tentar prolongar os aplausos que tem recebido desde que iniciou a tal faxina no Ministério dos Transportes.

Faxina que até agora se limitou às demissões.
Nenhum processo, nenhuma nova investigação, nenhuma prisão.
Bate-se o tapete sujo na soleira da porta e tudo resolvido.
Ninguém responde por nada, não há qualquer punição.
(Aliás, por onde anda o ex-ministro Antonio Palocci?)

Tudo fica como dantes no quartel de Abrantes, que, a partir de agora, está limpo e garantido porque não serão os políticos – essa corja – que ocuparão o Dnit.

Além de deseducador, já que amplia a sensação de que não há conserto, todo político é ladrão e pronto, afastando ainda mais os cidadãos de bem da política, o truque joga sobre todos a culpa de alguns.
Cria-se a falsa noção de que os cargos de livre nomeação não são políticos e de que técnicos são menos vulneráveis à corrupção.

De quebra, beneficia-se diretamente a presidente, que chegou ao posto número 1 do país como se técnica fosse, e do tipo que tem aversão à política.

Mentira pura.

Dilma fez política a vida inteira.
Desde os idos da juventude revolucionária.
Pode até não gostar da lida diária da política partidária, trabalhosa, chata.
Até porque, em sua personalidade sobressai o viés autoritário, o bater na mesa, dar ordens, governar no grito.
Prática muito distante dos afagos tão cultivados por seu padrinho e antecessor.

Chega a ser curioso ver os chamados técnicos vendidos como mágicos que saneiam as bandidagens dos políticos.
A intenção de nomeá-los ganha destaque na mídia, como se eles resolvessem todas as mazelas.


Desconsidera-se que não existe nomeação técnica.
Ainda que existisse, por detrás de um técnico sempre está um político, aquele que o indicou.
Estão as cotas partidárias ou pessoais.
O Dnit é a prova cabal disso.
Eram técnicos e não políticos as duas dezenas de demitidos.

Nesta semana devem ser anunciados os novos diretores do Dnit.
Todos com perfil técnico, como determinou a presidente Dilma em mais uma grande encenação.


Na verdade, a discussão inútil sobre perfis técnico ou político esconde o essencial: o que não pode é roubar.
E isso deveria valer para todos.

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