sexta-feira, 9 de abril de 2010

Atire a primeira pedra

Alguns temas são fundamentais para a vida humana e deveriam despertar todo o nosso interesse, para semearmos os melhores frutos e para que pudéssemos, talvez, nos desfazer do fruto apodrecido, evitando, assim, seus efeitos maléficos.
Em alguns setores da sociedade, infelizmente, nem sempre são as boas sementes que frutificam.
Eu costumo priorizar minha atenção e meus cuidados à minha família, meus amigos e em questões que eu considero vitais ou, no mínimo, agradáveis.
A minha preocupação com a política é uma coisa óbvia. Outra paixão é minha cidade, sobre a qual eu ainda pretendo dedicar muitos textos e declarações de amor.
Porém, a busca pela harmonia entre mente, corpo e "espírito" é o que me leva a agir e a tomar certas decisões, como a criação deste blog.
Hoje, eu encontrei a descrição mais compatível com o que estou sentindo, no momento, em relação à minha religião, sem fugas ou condenações levianas.

cartas de estocolmo
A nuvem negra sobre a Igreja Católica

A gente aceita melhor um crime que parte de um criminoso comum, do que qualquer delito cometido por alguém em quem confiamos.

Com essa mesma lógica, tenho enorme dificuldade em conformar-me com as notícias sobre a pederastiano seio da Igreja Católica.

As denúncias sobre pedofilia, pederastia e exercício ativo da sexualidade de padres me escandalizam, me comovem, me revoltam, me dão nojo, me assustam. Muito mais do que outras horríveis notícias sobre violência e abusos em qualquer lugar do mundo.

A razão? Ora, trata-se da minha Igreja!

Só consigo me tranquilizar um pouco e realizar minhas orações em paz, quando me lembro de que a hierarquia da Igreja é formada por seres humanos passíveis de erros e pecados, como todos nós.

Na missa de Quinta-Feira da Semana Santa, sentei-me no primeiro banco da catedral e não pude deixar de pensar no assunto.

Enquanto boa parte dos 162 padres da Diocese de Estocolmo se posicionavam em seus lugares, para a missa de confirmação dos votos, relembrando a escolha dos doze apóstolos, eu pensava: meu Deus, que horror!

A meu lado, meu filho adolescente me fazia lembrar dos meninos violentados e desrespeitados mundo afora. E dois filmes, La Mala Educación, de Almodóvar, e El Crimen del Padre Amaro, não saíam da minha cabeça.

Graças a Deus, minha agonia não durou muito e consegui focar minha atenção na oração.

O Bispo Anders Arborelius, um sábio, humilde e sempre em sintonia com seu tempo, abriu a missa com palavras de condenação aos padres pecadores, que mancharam, com seus atos, o nome da Santa Igreja. E, na homilia, voltou a tocar no assunto e a advogar pela faxina na Igreja e pela exclusão dos culpados.

Ser cristão, neste mundo de hoje, já não é fácil. Ser católico na Europa moderna é ainda mais complicado. Mas, é desestimulante, desencorajador, para qualquer católico, ler as notícias do México, da Irlanda, dos Estados Unidos, da Alemanha, da Itália, do Chile e de tantos outros lugares, sobre os abusos cometidos por aqueles que deveriam nos apoiar nos momentos difíceis e nos relembrar do caminho da Luz.

Devo confessar que minha Semana Santa não foi tão boa este ano...

Que a imprensa continue denunciando! Que as pessoas diretamente ofendidas e suas famílias continuem tirando os podres dos seus arquivos empoeirados e colocando tudo sobre a mesa! Que os culpados sejam levados a enfrentar o julgamento e a justiça dos homens! Que o Vaticano tenha juízo e faça a faxina necessária! E que La Mala Educación nunca mais se repita!

Pois basta um facho de luz para derrotar a escuridão. E só uma chuva muito forte, uma tempestade com muito vento, para fazer a nuvem negra desaparecer...

Porque Jesus morreu para preservar a bondade eterna no coração humano criado pelo Pai e para que, Nele, encontremos forças para amar até o fim.

Que Deus nos ajude a preservar nossa conexão com Ele, mesmo quando confrontados com a doença e a mais profunda maldade.

Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há mais de uma década em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

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