sexta-feira, 23 de abril de 2010

O nosso país conserva a cara de século XX. Isso não basta. Por isso, o Brasil quer "MAIS"!

A sociedade do século XX se destacou por grandes transformações, entre as quais o ritmo dos acontecimentos.
A velocidade se tornou qualidade fundamental para qualquer cidadão que quisesse acompanhar esse novo ritmo.
Isso pode ter sido altamente positivo para os avanços necessários na busca do desenvolvimento e da melhoria da qualidade de vida, principalmente na pesquisa científica que trata da saúde humana.
Por outro lado, pode significar uma frustração aos que não possuem essa aptidão, como também tem tornado a vida das pessoas extremamente superficial e descartável.

Outra característica que podemos citar como essência dessa sociedade é o "culto ao "Mercado", que considera a própria vida humana como mercadoria".
"A sociedade de consumo representa uma imagem invertida do mundo real", onde vive o cidadão "ANÔNIMO", que se realiza trabalhando, cuidando da família, que tem sua individualidade respeitada, enfim, o cidadão comum, do povo, a semente que germina e que pode produzir excelentes frutos.

Den­tro em breve, nas ruas só haverá artis­tas,
e vai ser muito difí­cil encon­trar um homem
.”

(Arthur Cravan)

O filósfo e diretor de cinema Guy Debord foi um dos pen­sa­do­res a criar uma obra com uma aná­lise crí­tica da soci­e­dade de con­sumo sob a pers­pec­tiva do “espe­tá­culo”, na qual apresentava uma versão ante­cipada do que estava para se tor­nar realidade tempos depois.
O livro "A soci­e­dade do Espe­tá­culo", de Debord, tra­ta, prin­ci­pal­mente, da "mer­ca­do­ria como espe­tá­culo e do triunfo da apa­rên­cia".

A pri­meira tese do livro de Debord afirma que a vida das soci­e­da­des moder­nas “se apre­senta como um imenso espe­tá­cu­lo”, isto é, “tudo o que era vivido dire­ta­mente tornou-se uma repre­sen­ta­ção".
A crí­tica mais con­tun­dente de Debord é quando afirma que "a ver­dade do espe­tá­culo é a nega­ção da vida que se tor­nou visí­vel".
O mundo das celebridades, hoje mais do que nunca, parece deslumbrar o cidadão comum que, negando a vida real, busca cada vez mais fazer parte do círculo dos famosos.

Será que o autor não está sendo radical? Será que realmente não descobrimos novos mecanismos de dar mais graça à vida de mais pessoas, o que era restrito a pequenos grupos de privilegiados?
Afinal, o acesso aos bens de consumo de melhor qualidade está cada vez mais facilitado.
Será que isso é tão ruim assim?
Talvez possamos direcionar nossa crítica no incentivo ao consumismo irresponsável, que gera o endividamento e muito sofrimento, não necessariamente ao consumo consciente, que leva em conta a preocupação com o impacto no meio ambiente e no orçamento doméstico.
A falta de bom senso e de equilíbrio no orçamento das famílias é consequência de políticas de governo que facilitam o crédito para quem não tem dinheiro para pagar.
É reflexo, também, do mau exemplo de quem promove a gastança desenfreada com dinheiro público, sem prestar contas e sem medir consequências, como é o caso dos escandalosos gastos com cartões corporativos, que sustentam as mordomias palacianas.

O "fantástico" show da vida

Voltando à abordagem sobre velocidade, "a soci­e­dade espe­ta­cu­la­ri­zada entende que a his­tó­ria pre­cisa ser per­ma­nen­te­mente revista, rees­crita, e mais freqüen­te­mente ainda, esque­cida". E o ritmo de vida das pessoas, cada vez mais frenético, favorece essa tese.
Continuando suas reflexões, “aquilo de que o espe­tá­culo deixa de falar durante três dias é como se não exis­tisse". E uma das características que favorecem a desconstrução dos registros históricos é a promoção de inúmeras fes­ti­vi­da­des, como é o caso da copa do mundo de futebol, dos jogos olímpicos, entre outros. Um evento sucede outro evento e assim suces­si­va­mente, distraindo a atenção e apagando da memória os acontecimentos que ficam pelo caminho.

Diante de tantos questionamentos, algumas circunstâncias carac­te­ri­zam a forma de poder do espetáculo. Debord apresenta cinco aspectos principais, das quais eu destacaria "a men­tira sem con­tes­ta­ção que con­su­mou o desa­pa­re­ci­mento da opi­nião pública" e "a cons­tru­ção de um pre­sente que quer esque­cer o pas­sado e dá a impres­são de já não acre­di­tar no futuro".

O resul­tado é que, no caso do Brasil, nunca na história do país se pôde "men­tir com tão per­feita ausên­cia de con­seqüên­cias” pois “o que nunca é punido torna-se per­mi­tido”. Portanto, as palavras do filósofo, após quase meio século, continuam repercutindo a realidade.

Talvez, por este motivo, o lema "O Brasil Pode Mais", tem despertado tantas reações. Enquanto a população acorda para a necessidade de rever os rumos do país, aqueles que aderiram à espetacularização como método de dominação e manuntenção do poder a todo custo demonstram a mais profunda irritação com a ideia genial de apontar as reais necessidades de nossa população, que não estão sendo atendidas apenas com discurso e propaganda.

Mais informações sobre a obra: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/socespetaculo.html
Análise e ilustraçao: http://www.luizcarlosramos.net/?p=2368

5 comentários:

  1. Adorei a sua colocção em relação a nossa realidade. Puramente verdadeira.O que eu gostei mais foi a observação do Pais da Mentira sem consequências.
    Por isso as mentiras deslavadas a Partir do nosso Presidente que deveria dar o exemplo e não acobertar "os seus Amigos".
    Por isso é que sabemos que realmente todos fazem tudo, a seu bel prazer, sabendo que não terá nenhuma "consquencia".
    Gostei da Redação, mutio clara.

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  2. O pior é o mau exemplo.
    Antes nós tinhamos autoridades num pedestal.
    Ao povo restava a obediência e o respeito às leis.
    Agora incutiu-se na cabeça das pessoas que é um de nós, do povo, que está no poder, e que não respeita as leis.
    Oras, então para que eu preciso respeitar a lei?
    Liberou geral.
    E o povo sofre com a falta de respeito generalizada e a violência sem limites.

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  3. Cara Rose,
    fico até lisongeado que vc tenha utilizado meu material no seu blog. Lamento entretanto que vc não tenha dado o devido crédito. Isso coloca em cheque toda a sua reflexão. Plágio não é exatamente o qua há de mais ético e digno de quem, ao que parece, advoga um país menos mentiroso.
    Vc deve concordar comigo que todo autor é digno do seu crédito... assim como me referi ao Debord, gostari que vc fizesse a devida alusão ao meu artigo... esse sim, resultado de pesquisa, leitura e esforço.
    Atenciosamente,
    Luiz Carlos Ramos
    http://www.luizcarlosramos.net

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  4. Professor Luiz
    Perdão
    Às citações que encontrei em diversas análises eu estou acrescentando aspas, alterei o que achei necessario e, quanto à ilustração que colei, realmente não identifiquei a autoria e não tenho conhecimento sobre a necessidade de citar a fonte de ilustrações e fotos, pois sou iniciante e leiga. Porém, faço questão de consertar o equívoco e mais uma vez peço desculpas, pois eu sempre procuro tomar esse cuidado.
    Estou surpresa que alguém, além de meia dúzia de amigos, tenha lido alguma coisa do meu modesto blog.
    Parabenizo-o pelo seu trabalho, é magnífico, por isso me inspirou. Entretanto, minha abordagem é totalmente diferente da sua, como também o uso da linguagem coloquial contrasta com a do seu texto.

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  5. Cara Rose,
    obrigado por sua reação. Quanto à ilustração/foto, essa não era a principal questão. Mas, para constar, essa é a imagem da capa da edição estadunidense do livro de Gui Debord: "Society of the spectacle".
    No mais, quero estimulá-la a continuar investindo no seu bolg e nas pesquisas sobre o tema, que realmente é fascinante. Poucas pessoas o tem abordado com propriedade.
    Grande abraço,
    Luiz Ramos

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