quarta-feira, 14 de abril de 2010

"Democracia Absolutista?"

No momento em que vivemos uma "Democracia Absolutista", o que soa como aberração, resta-nos crer numa visão realista da história, nada é definitivo.
Segundo o filósofo e político italiano Norberto Bobbio a história é um labirinto. Devemos procurar por nós mesmos a saída, aprendendo com o que já passou.

Algumas notícias ou comentários trazem, muitas vezes, lembranças de momentos de dor, página virada para quem assiste do lado de fora, mas para quem sofreu uma perda, uma calúnia ou traição, esses momentos nunca serão apagados, talvez sublimados, para tornar a dor ao menos suportável.

São nesses momentos que paramos para refletir sobre o real sentido das coisas, os porquês de tanto ódio e desejo de vingança, que fazem com que indivíduos ajam sem medir as consequências, sem se importar com os danos irreparáveis que podem causar.
Como entender a perseguição durante os oito anos de governo Fernando Henrique, com o Lula liderando a campanha "Fora FHC"?
Há quase oito anos no poder, continuam os discursos inflamados, insultando e caluniando o antecessor.
Justamente contra aquele que sempre foi seu amigo, tanto é que o jornalista Paulo Markun escreveu um livro sobre a trajetória de ambos, mostrando que, em vários momentos, eles foram muito mais próximos do que se imagina, e que jamais perderam a amizade.

Como explicar, então, que dentro do Palácio do Planalto se produziu um dossiê falso envolvendo a esposa de Fernando Henrique?
Como a Folha revelou em 2008, partiu da Casa Civil a ordem para confeccionar o dossiê que reuniu informações sigilosas de gastos do casal FHC e Ruth Cardoso. Jamais desmentiram essa informação, mas negaram se tratar de um dossiê, classificando o documento como “banco de dados”.

O que motivou essas lembranças?

No site do http://www.claudiohumberto.com.br/principal/ há uma série de notas de colunas de jornais que despertam a atenção para os "sentimentos" do presidente.

Lula se diz magoado com o ministro Ayres Britto.
Lula está “muito ressentido” com um dos ministros mais admirados do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, segundo um assessor palaciano.
Como o nomeou, o presidente esperava que o ministro, um ex-filiado ao PT, atuasse como “líder do governo” no STF e no Tribunal Superior Eleitoral.
Mas no TSE Ayres Britto atuou com independência e firmeza, inclusive multando-o por propaganda eleitoral fora de época.


Poço de mágoas
“O presidente não esquece quem o magoa”, diz o assessor palaciano, ao justificar ressentimentos que o chefe “levará para o túmulo”.

Calou fundo
Lula não esquece, “nem perdoa”, diz o assessor, a frase de Ayres Britto sobre uma afirmação dele: “Ninguém é eleito para ‘fazer’ sucessor”.

Prato servido frio
Vingativo, Lula considera “questão de honra”, também, a derrota de adversários como Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Agripino Maia (DEM-RN) em outubro.

Oras, em pleno século XXI ainda ganham força regimes que nos fazem pensar nas monarquias absolutistas do século XVIII.
Alguns conseguem conquistar o poder pelo uso da força e da intimidação.
No Brasil, felizmente, isso nunca funcionou, talvez, por isso, modificaram-se os métodos.
Assim, observa-se o sucesso das campanhas políticas com apelo emocional. Porém, não se justifica a chantagem emocional como forma de dominação e desrespeito às leis.
Isso tem sido constatado em vários momentos, desde o mote de campanha, que tem usado a imagem de um personagem criado com esse propósito, de comover para dominar, até nesses lances estratégicos de demonstrar sentimentos de mágoa para que tudo seja feito de acordo com sua única e exclusiva vontade.
Pode-se definir a chantagem como sendo uma situação onde quem faz a chantagem exerce um processo de pressão a fim de receber algo de seu interesse. Não é exatamente isso que está acontecendo?

Até Roberto Jefferson, que sempre considerou o presidente um homem "probo", parece que está arrependido de ter feito o serviço pela metade quando denunciou o Mensalão. Diz ele em seu blog http://www.blogdojefferson.com/index.aspx: "Penso que Duda Mendonça é um verdadeiro gênio: conseguiu fazer o brasileiro acreditar naquele personagem "Lulinha paz e amor". Pura ficção."
E vai além: "O ressentimento de Lula também deve estar por trás da investigação movida pela máquina de governo contra o senador tucano Marconi Perillo. Assim como não perdoa Ayres Britto, Lula não esquece do fato de o senador goiano ter revelado à imprensa (e depois confirmado na Justiça) o alerta pessoal que lhe fez sobre pagamentos a parlamentares da base aliada em troca de apoio em votações, o mensalão."

E o povo brasileiro segue feliz, contentando-se com a propaganda que apresenta índices e números magníficos, que contrastam com a péssima qualidade dos serviços públicos e a falta de infra-estrutura necessária para melhorar a vida das pessoas.

Encerro citando um pensamento do filósofo Bobbio:
"No despotismo iluminado de ontem e de hoje, a figura do homem servo, mas feliz, substitui aquela que nos é mais familiar através da tradição do pensamento grego e cristão do homem inquieto, mas livre. Qual das duas formas de convivência está destinada a prevalecer no futuro próximo, ninguém está em condições de prever".

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