domingo, 25 de setembro de 2011

Pobreza americana

O segmento que está no meio da distribuição de renda americana é mais rico do que 94% da população mundial

Merval Pereira, O Globo

O crescimento da pobreza nos Estados Unidos em 2010, em consequência da crise econômica, recentemente revelado por pesquisas oficiais, fez voltar um debate que chegou a ter até mesmo um pitoresco lado internacional.

Ao mesmo tempo em que, no Brasil, o ano de 2010 marcou a ascensão da classe C, a classe dominante tanto em número de pessoas quanto em poder de compra, abrigando mais de cem milhões de brasileiros, nos Estados Unidos houve o inverso, fazendo com que alguns ufanistas considerassem que o Brasil, finalmente, sobrepujara os Estados Unidos.

Já em novembro de 2010, refletindo essa euforia, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, fizera um pronunciamento no qual registrou que "o Brasil nota com preocupação o aumento do número de pessoas vivendo na pobreza nos EUA e a persistente diferença racial".

Aproveitou para dar uns conselhos ao presidente Barack Obama: que ele fizesse como o presidente Lula e acelerasse os programas sociais contra a pobreza.

Os números oficiais divulgados recentemente mostram que, se o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza voltou a aumentar nos Estados Unidos em 2010, para 15,1%, nível mais alto desde 1993, ou, em termos absolutos 46,2 milhões de pessoas, número mais alto em 52 anos, a definição da linha de pobreza pelos padrões americanos confundiu os mais entusiasmados.

A pobreza americana corresponde a uma renda anual de até US$ 22.314 para uma família de quatro membros, ou de até US$ 11.139 para uma só pessoa.

Fazendo-se a conversão para reais, essas rendas correspondem à renda de boa parte de nossa classe C, que vai de R$ 1.200 a R$ 5.174 por mês.

Para o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas do Rio, nosso maior especialista em estudos de distribuição de rendas, o que explica essa diferença não é nem mesmo a paridade de poder de compra, que pode amenizá-la, mas "o nível de vida real mesmo, países mais ricos têm naturalmente exigências maiores em relação ao que é ser, ou não ser, pobre".

No nosso estudo de pobreza e de classe média, explica Neri, usamos a distribuição de renda e dados de consumo brasileiros para determinar as linhas de corte para os diferentes estratos econômicos.

"A classe média é relativa ao Brasil, não aos EUA, que é um país rico.
A renda média americana mesmo depois da crise caiu para US$ 400/dia PPP por família de quatro pessoas.
Logo quase todos os países que se compararem aos padrões americanos serão considerados pobres, sejam africanos ou latino-americanos."

(...)

"A nossa classe C está dentro dos limites, que variam muito entre si.
Alguns olham para a nossa classe C e a enxergam como média baixa; e para a nossa classe B e a enxergam como classe média alta",
analisa Neri.

Íntegra AQUI.

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