domingo, 29 de abril de 2012

Em ano de eleição, Dilma descobriu a seca


Por Vítor Hugo Soares

Nestes dias, de geléia geral brasileira, nada poderia ter sido mais expressivo – como ato político e fato jornalístico - que a primeira visita do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, à Brasília, depois do tratamento de câncer na laringe a que se submeteu.
(...)

Tudo, coincidentemente (ou não?), no primeiro dia de funcionamento, no Congresso, da chamada CPI Mista do Cachoeira.
Portanto, um foco a mais para ser bem observado na capital do Brasil, sobressaltada pelos vivos e os esqueletos que se cruzam, ultimamente a cada instante, na inquieta cidade do planalto central.
Denúncias pipocam de todo lado, acompanhadas de “ruídos” e boatos que mais confundem que ajudam a esclarecer sobre “um escândalo que promete abalar Paris”, como se diz em Irecê, no nordeste baiano, assolado, junto com mais de 200 municípios, por mais uma “seca sem precedentes”.

A estiagem - assim como a praga corrupta e corruptora de Cachoeira, que contamina a política, governos, imprensa, empresas públicas e privadas - rola solta há mais três anos na Bahia e em outros tantos municípios da região Nordeste.
Neste ano de eleições para as prefeituras, coincidentemente (ou não?) a seca ganhou dramáticas cores de tragédia de umas semanas para cá, em meio ao alvoroço da CPI no Congresso.
Principalmente depois de outro encontro que merecia ser olhado (e analisado) com mais atenção.
Este, ocorrido em Aracaju, nordestina capital sergipana, no começo da semana, entre a presidente Dilma e os governadores da região.
Do encontro, além de imagens expressivas no palácio do governo, que lembram pompas de tempos imperiais e de fartura (e não as agruras da seca) resultou o anúncio, com pompa e circunstância, da polêmica “Bolsa Estiagem”, que concederá auxílio de R$ 80, por cinco meses, às famílias residentes nos municípios nordestinos atingidos pela seca”.

“Amaldiçoado quem pensar mal dessas coisas”, diriam os franceses.

Mas vale lembrar que Luiz Gonzaga e Zé Dantas já alertavam, em “Vozes da Seca”, sobre o tratamento assistencialista (e eleitoreiro) dispensado, pelo governo, nas estiagens dos anos 50, no século passado:

“Seu doutor uma esmola, a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão”.

 (continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário