sábado, 15 de junho de 2013

O BRASIL QUE PODERIA SER, MAS NÃO FOI

Governo tenta - e consegue - iniciar círculo vicioso na economia


Intervencionismo petista deu resultados rapidamente: PIB frustrante, inflação alta, indústria estagnada, deterioração fiscal e perda de credibilidade no mercado externo. E o governo segue culpando a crise internacional

Ana Clara Costa
Dilma Rousseff, na cerimônia de lançamento dos Planos Setoriais na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em Brasília
Dilma Rousseff: tentativas frustradas de impulsionar o PIB colocam o país em situação delicada (Ueslei Marcelino/Reuters)
Tornou-se prática corriqueira entre os governantes petistas gabar-se dos bons feitos (seus e também dos demais) e culpar os outros (países, empresas e oposição) pelos seus próprios passos errados.

Uma célebre afirmação do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto reflete bem essa mania - ainda que tenha sido dita nos idos do governo Lula. "O nível do mar subiu e o navio subiu junto. De vez em quando, o governo pensa que foi ele quem elevou o nível do mar", afirmava o ministro durante o último ano de gestão do ex-presidente, ao comentar o bom desempenho da economia brasileira. (...)
Agora, o cenário se inverte e o país está em face de um círculo vicioso. A exuberância de três anos atrás desapareceu - e a culpa, diz o governo em uníssono, é do cenário externo. Esse é o argumento usado pelo Banco Central para justificar a inflação que não cede - e também é a explicação do ministro Guido Mantega para chancelar o corte do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa no Brasil.

O mercado aplaudiu a medida, pois ela desonera a entrada de capital externo no país. Contudo, Mantega sequer cogitou reconhecer que o imposto foi criado (e depois zerado) devido a uma estratégia falha e intervencionista do governo de tentar deter a entrada de dólares no mercado brasileiro num momento em que o real se fortalecia. Ao retirar o IOF, o ministro se justificou afirmando que, devido à mudança da política monetária do Federal Reserve (o Fed, banco central americano), poderia haver menos liquidez no mercado global - e um IOF alto poderia potencializar essa falta de recursos no Brasil. Novamente, a culpa é do vizinho.
A economia brasileira passa por um momento delicado: após inúmeras mudanças que engordaram o peso do estado no setor produtivo e fecharam ainda mais o mercado interno, o PIB segue decepcionando (avançou apenas 0,6% no 1º trimestre) e os pilares que sustentam a estabilidade do país perderam firmeza.

inflação há muito não figura no centro da meta do BC - e o câmbio deixou de ser flutuante e passou a ser mantido próximo de uma banda não-oficial de 2 reais. Tal feito ocorre por meio de leilões de compra e venda de contratos da moeda americana no mercado futuro pilotados pelo Banco Central. Se o dólar sobe demais, o BC anuncia leilões de venda. Se cai, o movimento é de compra. Por fim, a taxa básica de juros (a Selic)  - principal ferramenta de controle da inflação - foi submetida a um corte vertiginoso orquestrado pelo Palácio do Planalto.
O resultado da matemática irresponsável é que o país teve sua perspectiva de nota da dívida soberana rebaixada de 'estável' para 'negativa' pela agência de classificação de risco Standard & Poor's na noite de quinta-feira.
(...)

No intento de convencer o mercado que todas as decisões foram acertadas, o governo engana (apenas) a si mesmo. E as consequências já começam a aparecer em forma de números.

Para piorar, o país corre o risco de não cumprir a meta fiscal (a economia do governo para pagar os juros da dívida) nem mesmo lançando mão da chamada contabilidade criativa em 2013. (...)
O mecanismo cria a ilusão de que o país fez o esforço fiscal necessário. Mas, na realidade, tudo continua igual: política fiscal frouxa, inflação alta, competitividade baixa e crescimento econômico ínfimo. O cenário que se cristaliza é de um Brasil que poderia ser, mas não foi. A personificação do voo de galinha, do futuro que jamais chegou.
As tentativas de reavivar o PIB - que ainda não deram certo 
Desonerações tributárias



Dentre as várias medidas de Dilma para estimular a economia brasileira, as desonerações fiscais foram as principais. Instituída em dezembro de 2011, a política que prevê redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) abordou as áreas de eletrodomésticos da linha branca, móveis, cesta básica, automóveis e construção. O motivo era estimular o consumo entre a população, acarretando em uma preferência pelos produtos nacionais.

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