sábado, 14 de janeiro de 2012

Crack: salvar vidas

Por Andrea Matarazzo

A operação iniciada há dez dias pela PM na Nova Luz para combater o intenso tráfico e consumo de crack tem sido motivo de muita discussão. Acredito que a opinião dos paulistanos seja unânime: algo precisa ser feito para resolver de forma eficaz a situação dessa região que há tempos foi “batizada” de Cracolândia – um estigma complexo que não pode ser ignorado, não pode ser refém da falta de coragem e, tampouco, usado por oportunistas.

Quando fui Subprefeito da Sé e Secretário das Subprefeituras pude atuar diretamente na região. Na época, começamos um trabalho que dificultava a vida do traficante. O tema ainda faz parte do meu dia a dia. Tenho convicção do que é preciso fazer, penso que o Governo do Estado está no caminho certo. A repressão ao tráfico é fundamental.

Há um falso dilema entre a operação policial e o auxílio aos dependentes químicos nas áreas de saúde e social. São ações simultâneas: cerca de 70 dependentes já foram internados durante esta operação.

Por outro lado, a concentração deles na região da Rua Helvétia colaborava com os traficantes, que tinham um shopping de drogas a céu aberto. A ação da PM tem como objetivo quebrar essa logística.

Ouvi críticas sobre a dispersão dos usuários de crack para outras áreas. Mas isso também é esperado e a polícia continua atuando em toda a cidade. Prova disso foi a prisão, na zona leste, de uma das maiores traficantes que abastecia a Nova Luz. As pessoas esquecem que grande parte desses usuários não é morador do centro da cidade. Eles vieram de seus bairros em função da fácil oferta da droga.

Fica claro que parte dos críticos não conhece a Nova Luz, não sabe o que se passa na região e faz uso político da tragédia.

Além das ações que reprimem duramente o tráfico, o poder público, por meio da Saúde e da Assistência Social, tem de oferecer permanentemente tratamento especializado, não só para os que estão na Nova Luz, mas para todos. Nenhum um de nós suportaria ver um filho ou um irmão morando na rua, vivendo em função do vício. Só com cuidados médicos e tratamento adequado será possível salvar vidas. É um trabalho de persistência e longo prazo.

(Artigo publicado no Diário de São Paulo, na coluna Formador de Opinião, em 14/01/2012)

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