domingo, 17 de junho de 2012

Governo carimba documentos como 'secretos' para driblar Lei de Acesso

Há cerca de quatro anos, após denúncias escandalosas sobre farras milionárias de autoridades da República com cartões corporativos,  os jornais anunciavam que o presidente Lula encomendou a Dilma um dossiê que transformasse Fernando Henrique e Ruth Cardoso no mais perdulário dos casais. A infeliz ideia seria a de desviar a atenção e destruir a reputação da pessoa mais íntegra que já pisara nos Palácios de Brasília para justificar a gastança alegando que "todos fazem".

A então chefe da Casa Civil repassou o serviço à sua fiel escudeira, Erenice Guerra, e em momento algum negou o que chamou de banco de dados.
O argumento era de que, após o mandato, tais despesas deixavam de ser sigilosas. Por isso, uma declaração do ex-presidente não pode ser esquecida, Lula se comprometeu a publicar seus gastos com cartões corporativos assim que deixasse a Presidência da República.

Já está mais do que na hora de exigir o cumprimento de sua palavra.
Enquanto aguardamos, vejam as artimanhas para driblar a lei sobre transparência, no Estadão:

Ministerios usam exceções para reclassificar papéis que antes tinham livre acesso a consulta


Para driblar a obrigação de divulgar dados públicos, imposta pela Lei de Acesso à Informação, o governo está reclassificando documentos como sigilosos. Antes de livre consulta, os papéis estão ganhando carimbo de reservados após a entrada em vigor da norma, em 16 de maio, sem justificativa legal, com o propósito de adiar a divulgação por até 25 anos.

Os ministérios baseiam-se nas exceções previstas no texto legal, apesar de a Lei de Acesso ressaltar que a transparência é regra. Entre os argumentos mais usados está o risco à "segurança da sociedade ou do Estado", à qual os órgãos públicos se apegam até para negar dados de convênios prosaicos, firmados diariamente pela administração.

O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) usou essa justificativa para que o Estado não tivesse acesso a dados de parceria firmada com entidade sem fins lucrativos do Rio de Janeiro, cujo objetivo era a simples realização de palestras e cursos de acessibilidade para facilitar a inclusão de pessoas com deficiência.

O processo requisitado contém dados da contratação, que custou R$ 1,5 milhão ao erário. A decisão de negá-los partiu da diretora do Departamento de Ações Regionais para Inclusão Social, Renata Maria Gonzatti, que impôs ao processo sigilo de três anos, renovável por mais três - a lei, no entanto, prevê prazo mínimo de cinco.
Numa resposta lacônica, ela não explica qual seria, no caso, a ameaça à integridade social ou do Estado. Na prática, a medida igualou o convênio aos documentos que tratam de questões relativas à soberania nacional, às relações internacionais ou às atividades de inteligência do Brasil.

"É uma resposta picareta, tão patentemente absurda que beira ao cinismo", critica Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil, entidade que participou da elaboração do texto que, após discussões no governo, deu origem à nova legislação.

(continua)

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