quarta-feira, 27 de junho de 2012

ILUSÃO DO CONSUMO FÁCIL - CARROS SÃO RETOMADOS DE CONSUMIDORES INADIMPLENTES


Carro de consumidor inadimplente sai por menos que uma bicicleta em leilão

Na sexta-feira, em um leilão realizado em Guarulhos, o encarregado de manutenção Adilton Curi, de 46 anos, comprou um Fiat Palio 2004 por R$ 4,5 mil. Com esse valor - que corresponde a um desconto de 70% do preço na tabela de usados do Jornal do Carro (R$ 15,4 mil) -, ele não levaria para casa nem uma bicicleta feita de carbono, ideal para quem faz trilhas, vendida a R$ 10 mil.

A compra de carros a preço de bicicleta é um fenômeno recente. É o resultado da ressaca na farra de vendas de carros a prazo dos últimos anos. Os pátios dos leiloeiros estão lotados de carros devolvidos por consumidores inadimplentes, e até dos que foram confiscados por bancos e financeiras. Na outra ponta, o que não falta é comprador em busca de pechinchas.
"O carro não tinha nenhum problema. Fiz questão de comprar de uma financeira, que o havia retomado de um cliente inadimplente, por imaginar que, dessa forma, corria menos risco de comprar um carro ruim", conta Curi.
Não é à toa que especialistas já falam que o crescimento explosivo na venda de carros nos últimos anos virou uma bolha financeira e uma crise de inadimplência que lembra, em menor escala, o subprime americano.
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"O governo facilitou muito as condições de crédito no ano passado. Muitas pessoas que conseguiram financiar seu primeiro automóvel em até 70 vezes não estão conseguindo honrar a dívida", diz o economista e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Nelson Barrizzelli. "Acho até que podemos falar em um subprime brasileiro no setor."
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Inadimplência
A inadimplência de veículos subiu para 5,9% em abril, segundo dados divulgados na sexta-feira pelo Banco Central, batendo novo recorde. Estima-se que o calote do consumidor no pagamento de financiamentos de veículos novos e usados neste ano, até março, já supera R$ 10 bilhões.
"Digamos que há um ano uma pessoa que ganha R$ 2,5 mil por mês comprou um carro de R$ 37 mil para pagar em 60 meses a juros mensais de 0,98%. A prestação comprometerá cerca de 30% do salário", simula Barrizzelli.
"O consumidor ainda terá de arcar com seguro, manutenção e contar ainda com a depreciação do veículo. Juntos, são cerca de R$ 610 mensais, além da parcela do financiamento", conta. "É claro que, com o salário que ganha, não dá para honrar a dívida."
Para o economista, a situação pode piorar ainda mais com a redução do IPI. "Não adianta querer criar situações irreais para o estilo de economia que temos. Com esse estímulo, a inadimplência vai crescer."


(No Estadão)

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