sexta-feira, 6 de abril de 2012

O erro do senador farsante foi entender tarde demais que pertence à tribo dos demóstenes

Por Augusto Nunes


Com aplicação e competência, o ator Demóstenes Torres interpretou por muitas temporadas o papel do senador que optou pela oposição por viver permanentemente em guerra contra a corrupção impune, institucionalizada pelo governo federal. É compreensível que tantos homens de boa fé tenham acreditado no que dizia: num país em acelerada decomposição moral, a existência de políticos sem prontuário e sem medo parece tornar menos aflitiva a paisagem vista por gente honesta. É compreensível a vontade de crer que são reais.

Igualmente compreensível, a decepção causada pela aparição do verdadeiro Demóstenes não pode estimular a ressurreição da falácia tão cara aos criminosos: é tudo farinha do mesmo saco.

Conversa fiada, devem gritar em coro milhões de brasileiros que cumprem a lei, respeitam princípios éticos irrevogáveis e foram traídos pelo farsante que assimilou a metodologia dos incontáveis demóstenes que infestam o partido que virou quadrilha e a base alugada.

Esses reagiram com exemplar correção à descoberta da fraude.

Em vez de vislumbrar pretextos e álibis, o país que presta enxergou com nitidez ações criminosas. Em vez de recitar que ninguém é culpado até a rejeição do último recurso, viu patifarias suficientes para condenar o autor à morte política.

Ficou claro que só quem gosta de bandidagem tem bandidos de estimação.
A blindagem dos companheiros patifes é mais uma abjeção produzida pelo Brasil Maravilha que Lula inventou.


Imposta pelo afastamento dos antigos admiradores do moralizador que nunca existiu, a solidão do vigarista ampliou o abismo que separa os homens honrados dos sócios do grande clube dos cafajestes. Alertados por esse primeiro castigo, os cúmplices profissionais afundaram no silêncio, o corporativismo malandro saiu de férias, a direção do DEM livrou-se do ético de araque, a Justiça redescobriu a agilidade e ninguém tentou o resgate improvável. Demóstenes Torres está só.

Está só por ter atraiçoado o Brasil que pensa, não leva em conta o partido a que pertencem meliantes, não crê em palanqueiros populistas, vota com independência e é inclemente com corruptos.

O erro do senador foi ter transformado em gazua um cargo que conseguiu com o apoio de eleitores incompatíveis com pecadores. Deveria ter trocado de lado a tempo. Se tivesse trocado o DEM pelo PMDB, como sugeriram sua mulher e seu parceiro, Demóstenes seria acolhido calorosamente pelos coiteiros dos bandidos que infestam a aliança governista.

Nesse mundo fora-da-lei, abundam canastrões que seguem encarnando personagens tão verossímeis quanto o Demóstenes incorruptível, o Lula estadista, a Dilma supergerente ou uma tempestade de neve no Piauí.

Lá, o milionário chefe da seita ainda é o imigrante nordestino que trabalha numa metalúrgica. José Dirceu, chefe da quadrilha do mensalão e facilitador de negócios entre capitalistas selvagens, circula com a farda de guerrilheiro.

Incapaz de pronunciar uma frase inteligível, Dilma Rousseff faz de conta que lê livros. Com o PAC em frangalhos, mantém a camuflagem de supergerente incomparável.

Delúbio Soares, o contador do mensalão, voltou para o PT vestido de professor de matemática injustamente castigado. O partido que virou quadrilha luta sem descanso para incorporar à classe média os últimos miseráveis. Os balidos atestam que o rebanho enxerga apenas o que os pastores desenham.

Se tivesse juntado o acervo de bandalheiras numa das malocas governadas pelo morubixaba embusteiro, Demóstenes estaria engordando na tribo dos demóstenes. Com sorte, até o fim do ano viraria ministro.

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