terça-feira, 5 de junho de 2012

O governo contribuiu para o pobre resultado do PIB

O Estado de S.Paulo

Certos dados do PIB do primeiro trimestre do ano deixaram dúvidas - tanto alguns que ficaram acima das expectativas quanto outros que se apresentaram anormalmente baixos. Sem esquecer de que são resultados com ajuste sazonal, o que pode gerar surpresa em alguns setores.

O crescimento de 1,9% da indústria de transformação parece não coincidir com os dados divulgados pelo IBGE da produção industrial em volume, de uma queda de 3%.

Na realidade, no primeiro trimestre, em função da política de estímulo ao consumo do governo, houve uma grande desova de estoques das empresas (especialmente automóveis e linhas brancas), contabilizada como produção. Convém notar uma anomalia: o forte aumento do valor acrescido na indústria (1,7%), enquanto nos três trimestres anteriores o valor acrescido era negativo. É possível que a causa desse aumento possa ter sido a venda de bens produzidos no Brasil, e não de produtos importados que não tiveram os incentivos fiscais.

O consumo das famílias permaneceu igual ao do trimestre anterior (aumento de 1%), o que leva a crer que os incentivos ao consumo não tiveram grande efeito sobre os gastos, apesar de uma melhoria da renda. Podemos atribuir esse fato a um maior endividamento das famílias, que adquiriram imóveis, ou que, com melhor rendimento, compraram mais à prestação. Por outro lado, registra-se um aumento significativo do consumo da administração pública que pode ser atribuído aos efeitos do aumento, desde janeiro, de 14% do salário mínimo.
A queda na Formação Bruta de Capital Fixo, de 18,8% do PIB neste trimestre, ante 19,3% no mesmo trimestre de 2011, é certamente o resultado mais preocupante das Contas Nacionais. Explica-se, em parte, pela redução dos investimentos das empresas, de um lado, por comprarem produtos importados a um preço menor e, de outro, pela falta de demanda interna. No entanto, da parte de um governo que se proclama keynesiano, era de esperar que sua contribuição para os investimentos na infraestrutura fosse maior. Isso, naturalmente, exigiria uma redução dos gastos de custeio, como também mais eficiência em levar adiante a execução dos projetos.

A queda da produção agropecuária de 7,3% deveu-se principalmente a problemas climáticos, mas seria bom saber que efeito tiveram os cortes do orçamento da Embrapa nessa violenta redução. O governo tem sua parte de culpa nos resultados do PIB, que afetarão os trimestres seguintes.

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