domingo, 17 de fevereiro de 2013

CARIDADE É COISA DO PASSADO, NÃO HÁ MAIS MISERÁVEIS NAS ESTATÍSTICAS DE DILMA

O FIM DA MISÉRIA

J. R. Guzzo, Revista Exame

O governo divulgou no início de fevereiro vitórias importantes contra a miséria e prometeu que a partir do mês que vem não existirá mais pobreza extrema no Brasil. Isso quer dizer que não haverá ninguém, já agora em março, com renda inferior a 70 reais por mês em todo o território nacional.

Segundo os critérios oficiais em vigor, geralmente avalizados por organismos internacionais, essa quantia é a marca que define quem é quem na escala social brasileira. O cidadão que tem uma renda mensal de 70 reais, ou menos, é um miserável oficial; quem consegue passar esse limite já não é mais.

“Tiramos, entre 2011 e 2012, mais de 19,5 milhões de pessoas da pobreza extrema”, afirmou a presidente Dilma Rousseff. “Até o mês de março vamos zerar o cadastro”.
(...)

A dimensão numérica, portanto, está certa. O problema é que ela também está errada ─ pois leva o governo a concluir que a miséria está acabando no Brasil, quando é mais do que óbvio que ela continua existindo, e existindo à toda.

A primeira dificuldade com a postura oficial está na pessoa verbal utilizada pela presidente. “Tiramos” da miséria, disse ela ─ uma apropriação indébita da realidade, pois quem tirou aqueles milhões de brasileiros da linha inferior aos 70 reais não foi ela nem seu governo, e sim o contribuinte brasileiro.

Foi ele, e só ele, quem sacou o dinheiro de seu bolso, através dos impostos que paga até para comprar um palito de fósforo, e o entregou às coletorias fiscais; se não fosse assim, não haveria um único tostão a distribuir para pobre nenhum.
(...)

O resumo dessa ópera é claro. Daqui a alguns dias, não haverá mais miseráveis nas estatísticas do Brasil; só haverá miseráveis na vida real.

Além disso, seremos provavelmente o único país do mundo em que a miséria teve uma data certa para desaparecer. O governo poderá dizer: “O Brasil acabou com a miséria no dia 15 de março de 2013, às 18 horas, ao fim do expediente na administração federal”.

Praticamente nenhum cidadão brasileiro, ao sair todo dia de casa, leva mais do que 15 minutos para dar de cara com alguma prova física de miséria. Mas, do mês de março em diante, terá de achar que não viu nada. 

Se procurar alguma autoridade para relatar o fato, ouvirá o seguinte: “O senhor deve estar enganado. Não há mais nenhum miserável no Brasil”.

É assim, no fim das contas, que funciona o sistema cerebral do governo. A realidade não é o que se vê. É o que está no cadastro.

Leia a íntegra em ‘O fim da miséria?’

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