quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O BRASIL IDOLATRA O FRACASSO

Os trapalhões


Rodrigo Constantino, O Globo

Sou uma pessoa nostálgica. Uma das boas lembranças que tenho de minha infância é ficar no colo do meu falecido avô assistindo “Os Trapalhões”. Eu adorava. É por isso que devo agradecer ao governo Dilma por resgatar lembranças tão doces de minha vida. Acompanhar os atos de seus ministros é voltar no tempo, é como ver as trapalhadas da turma do Didi.



Comecemos pelos malabarismos contábeis que o governo fez para apresentar o superávit fiscal de 2012. A coisa foi tão primária que faria um mágico de festa infantil ruborizar diante do amadorismo. Poderiam ao menos ter chamado um David Copperfield para ajudar a esconder as peripécias!

O ministro Mantega é imbatível. Sua declaração sobre a taxa de câmbio comprova: “O câmbio é flutuante, mas, se exagerar na dose, a gente vai lá e conserta.” Ou seja, o câmbio flutua, desde que na direção do valor que o governo considera “correto”.

Na mesma linha, o ministro Lobão (não confundir com o músico inteligente) nos brindou com essa pérola ao falar sobre o aumento da gasolina: “O mercado é livre, mas não deve exceder o limite do razoável.” Traduzindo: o mercado é livre, desde que coloque o preço que eu considero razoável.

Quem precisa de preços tabelados quando se tem uma “liberdade” dessas?

O governo Dilma demonstra a cada dia seu forte ranço intervencionista. Pretende controlar toda a economia. Triste o país em que os preços mais importantes são todos decididos pelo governo!

Mas o nexo causal nunca foi o forte dessa equipe econômica. Eles acreditam que a economia ainda não se recuperou a despeito de suas fantásticas medidas. Não passa por suas brilhantes cabeças que é justamente o contrário: a economia patina e a inflação sobe por causa do governo!

Os investidores estão assustados com o grau de intervenção arbitrária. Também, pudera: a presidente usa seu poder para criar “campeões nacionais”, enquanto todos os privilégios e subsídios concedidos acabam prejudicando o restante, longe das graças estatais. O cobertor é curto. Para ajudar os “amigos do rei”, o governo tem destruído setores inteiros.

Basta ver o que aconteceu com o setor elétrico. As estatais foram dizimadas em bolsa, pois o governo, com foco no curtíssimo prazo, decidiu dar mais uma ajudinha aos industriais. Quem, em sã consciência, investiria em geração de energia em um cenário desses?

Mas isso não impediu a presidente de fazer propaganda eleitoral, anunciando a queda das tarifas e abusando do ufanismo boboca: quem critica a medida está contra o país!
(...)

Curiosidade: por que a presidente não fez uso da rede nacional de rádio e televisão para comunicar ao povo o aumento da gasolina, como fez para anunciar a queda das tarifas de eletricidade? Pergunta retórica, claro. Sabemos a resposta.
(...)

O BRASIL IDOLATRA O FRACASSO

O resumo da ópera bufa? Não temos mais câmbio flutuante, a Lei de Responsabilidade Fiscal foi abandonada, a inflação ameaça sair de controle, os bancos públicos criaram uma bolha de crédito, a inadimplência aumentou, os investimentos não vêm e a economia não cresce. Promissor?

O crescimento dos últimos anos, que já foi medíocre, teve boa ajuda externa. Tanto que nossa produtividade não aumentou quase nada. Tivemos um empurrão da alta das commodities. Isso acabou. E agora? Como crescer com esses trapalhões no governo?

Eu achava graça nas piadas dos Trapalhões. Elas eram inofensivas, ainda que politicamente incorretas para nossos padrões chatos de hoje. Mas as trapalhadas do governo não têm a menor graça. Elas vão custar muito caro ao Brasil.

Leia a íntegra em Os trapalhões

Rodrigo Constantino é economista

Um comentário:

  1. Atualmente seria interessante fazerem séries dos pronunciamentos da Dilma, do Mantega, e do Lobão para passar no canal Nickelodeon, aí sim veremos as crianças se divertirem. Mas tem que colocar máscaras neles para não assustá-las.

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