domingo, 18 de maio de 2014

CENÁRIOS DA CRISE

Ruy Fabiano

A política convive desde sempre com um paradoxo: não é um campo propício a profecias – elas quase sempre falham -, mas os que nela se movem nutrem-se de prospecções. Não se dá um passo sem se pensar antes no que se desenha para o futuro.

Magalhães Pinto dizia que política é como nuvem: a cada momento adquire uma forma diferente.

Um acontecimento banal, uma declaração infeliz podem desencadear mudanças consideráveis. Ciro Gomes, por exemplo, ia muito bem na campanha eleitoral de 2006 quando declarou, num de seus momentos zen, que o papel de sua mulher na campanha era dormir com ele. Serrou assim o galho em que estava sentado.

Nas eleições de 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN, saiu de cena ao declarar que não precisava do voto dos marmiteiros. Luiz Carlos Prestes, então senador do Partido Comunista, levou sua legenda à ilegalidade, na Constituinte de 1946, ao dizer que ficaria do lado da União Soviética na hipótese de uma guerra com o Brasil. Mordeu a isca da provocação.

Há inúmeros exemplos semelhantes, que obviamente, pelo inusitado, não constaram das projeções analíticas. Fiquemos, pois, com os dados disponíveis. Cenário 1: Dilma vence as eleições. Como será o day after? Pelo que está expresso em documentos recentes do PT, teremos a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer a reforma política, de que constam, entre outras coisas, financiamento público de campanha e voto em lista.

Sabe-se também que o partido sonha com a tal democracia direta, que, na Venezuela, levou Chávez a construir seu regime bolivariano, pontuado por plebiscitos, em que apenas o governo tinha acesso aos meios de propaganda. Ali também liberou-se a reeleição sem limites. O limite de Chávez foi a própria vida.

Também constam das pretensões do partido duas metas, uma há muito não mencionada – a extinção do Senado – e outra, sempre mencionada: a regulamentação da mídia. A primeira poria fim à federação, centralizando ainda mais o poder no governo central, e a segunda estabeleceria a censura aos veículos de comunicação, como já ficou demonstrado em numerosas análises, inclusive aqui, neste blog.

Cenário 2: vence alguém da oposição. Terá que promover ajustes profundos na economia, sobretudo na máquina estatal, hoje aparelhada pelo PT e aliados. Serão medidas em grande parte impopulares, mas inevitáveis. O futuro presidente terá que contar com uma oposição violenta e vingativa, que se empenhará em manter as ruas em sobressalto e sabotar, dentro e fora do Congresso, iniciativas do governo, como já fazia no passado.

Doze anos de poder conferiram mais substância à militância petista, que não admite a hipótese de derrota; diante dela, se dispõe à guerra total, como não cansa de repetir o chamado núcleo duro do partido. Quem o frequenta – e não é o meu caso, embora converse com quem o faz – garante que não passa pela cabeça dos comandantes do PT perder; mas, se ocorrer, não se pense em transmissão passiva ou pacífica do poder, inerente aos ritos democráticos. No parecido, não se fala em campanha, mas em guerra eleitoral.

Apertem os cintos, o piloto pirou.

São essas as projeções, nada agradáveis, que aqui resumo, na expectativa de que falhem.

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